sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O grande desafio

O GRANDE DESAFIO.
Li, ontem, que Shimon Peres, de visita ao Papa Francisco em Roma lhe terá feito o pedido que aceitasse ser o Presidente ou líder de uma espécie de Nações Unidas das Religiões.
A grande popularidade que o Papa Francisco, de facto, tem, aliada à mensagem de simplicidade evangélica, profundamente humana que transmite, fazem dele uma pessoa singular, respeitada e querida.
Isto é bom para todos aqueles que acreditam num mundo melhor.
Independentemente da religião que cada um professa ou mesmo da não religião que cada um postula, parece haver aqui, à volta deste homem bom, desta presença sadia, um desejo das pessoas se encontrarem consigo próprias, com os outros e, eventualmente, com O Indizível.
Face à barbárie e às atrocidades que se vão cometendo nestes últimos tempos (que não são assim tão diferentes daquelas que cometemos há séculos atrás, durante a reconquista e as cruzadas), por tantos cheios de ódio e de fanatismo, é bom ouvir o desafio lançado por Shimon Peres para que alguém com a credibilidade do Papa Francisco possa, em união com os líderes das religiões que aceitam o monoteísmo, levar os homens e mulheres do nosso tempo a encontrarem soluções pacíficas e de não violência para os conflitos existentes, hoje.
Que vai propor Francisco? Certamente uma coisa de que não gostamos muito de ouvir: conversão! Conversão sincera, mudança de vida, arrependimento, reparação, são palavras que caíram em desuso, deixaram de fazer parte do nosso vocabulário, do vocabulário do politicamente correto. São palavras que cheiram a mofo, antiquadamente foleiras, para beatas solteironas e frustradas.
E no entanto são palavras essenciais, se quisermos, homens e mulheres, jovens e crianças, se todos quisermos mudar alguma coisa neste mundo decadente, mas mesmo assim, ainda, planeta habitado por gente que pensa e que quer ser melhor.
Leonardo Santos

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Uma nova visão das coisas

UMA NOVA VISÃO DAS COISAS
A crise do BES veio revelar uma situação pouco abonatória para os bancos. Estivemos durante tanto tempo dominados e sujeitos a indivíduos da pior espécie humana. As "experiências" do BPN e do BPP já anteviam de certa forma este desastre. Ninguém imaginava que fosse tão grande, tão profunda, tão miserável a actuação destas figuras sinistras e escabrosas que constituiam os administradores do grupo GES. O homem da Galileia tinha razão quando disse peremptoriamente: "Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro!".
Ricardo Salgado tinha toda uma história de idoneidade, de respeitabilidade, de honestidade acima de qualquer suspeita. E o que o levou a enveredear por uma rota completamente ao invés daquela que tinha herdado da sua família? A ambição e as ligações ao Poder? Certamente que sim! Mas outros factores devem ter pesado também. 
Depois do 25 de Abril, os banqueiros passaram um mau bocado e alguns deles tiveram de "emigrar", esperando novas oportunidades de negócio e novos ventos de mudança. A partir dos anos oitenta regressaram  e foram-se instalando paulatinamente na sociedade portuguesa, à custa de muito trabalho e empreendedorismo. Todavia, quando começaram a aparecer os governos do bloco central e o poder ficou limitado à área do "Centrão", começaram as ambiguidades e cada vez foi maior a influência da classe política nos bancos e nas administrações dos bancos. Começaram a aparecer os "chico-espertos da política" que foram indigitados, pelos seus amigos, do PS, PSD e CDS, para os Conselhos de Administração dos Bancos, minando-os e introduzindo ali sementes de podridão que começaram a produzir os seus frutos. Conhecem a parábola do trigo e do joio? O homem da Galileia conta-a de uma forma admirável. Quem tem olhos para ver que veja!
Lembram-se das famosas nomeações de Carlos Ferreira, Armando Vara, Celeste Cardona e de tantos outros e outras que a pouco e pouco começaram a ser uma banalidade no dia a dia do meio empresarial e de negócios, acrescendo a tudo isto a cada vez maior promiscuidade entre os bancos e o dinheiro sujo vindo de paraísos, como  por exemplo Angola. Não é por acaso que Daniel Proença de Carvalho é o homem-forte de José Eduardo dos Santos, como o comprova a sua nomeação para "chairman" da Controlinveste, cujo maior acionista é António Mosquito, um dos maiores do regime de Angola. Tudo está ligado e estas ligações são claras como a água da ribeira que ainda não foi conspurcada pelo banho de tantos oportunistas da nossa praça que sob a capa da democracia nos vão miseravelmente enganando e roubando. Haverá algum dia justiça para eles?
Manuel Feliciano


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Banco bom v. Banco mau

BANCO BOM VERSUS BANCO MAU
O espetáculo continua. Agora temos o banco bom e o banco mau, o amado e o odiado, o puro e o impuro, o bonzão e o perverso, como se, a partir de agora tudo estivesse resolvido, como se a partir de agora começasse uma nova vida, como se nós, povo português, a partir de agora confiássemos no sistema bancário, nos seus gestores, nos seus administradores. As últimas "experiências" comprovam que, salvo raras excepções, os chamados banqueiros ou administradores bancários são pessoas venais, obtusas, sinistras e que passeiam toda a sua intocabilidade pelos corredores do poder, sem que nada lhes aconteça, porque em Portugal a Justiça que temos, desde a mais pequena à mais sonante, é uma Justiça de treta, de conveniência, de rapapé e de beija-mão perfeitamente intolerável e inadmissível no mundo comtemprâneio. Só de me lembrar de Noronha de Nascimento ou de Pinto Monteiro é suficiente para fazer saltar de cá de dentro um vómito de desprezo pela obstrução que fizeram, deliberadamente, à Justiça portuguesa, 
não permitindo que ela avançasse como deveria. Pelo contrário, meteram-na na gaveta, e o que é pior, ordenaram o seu arquivamento e até a destruição de provas (estamos a referir-nos concretamente ao caso das escutas que os dois magistrados referidos anteriormente tentaram abafar, não permitindo a sua audição como prova em tribunal.
Estou com curiosidade em saber o que vai acontecer a Ricardo Salgado, ao seu braço-direito no Bes, a todos aqueles que prevaricaram, que cometeram crimes contra o Estado, as pessoas, as instituições, enfim contra pessoas inocentes que confiaram nos banqueiros, nos políticos, em figuras, aparentemente, acima de qualquer suspeita.
Quero ver o que é que vai acontecer a figuras políticas como Sócrates, grande amigo de Ricardo Salgado, a Marcelo Rebelo de Sousa, outro grande amigo pessoal do pseudo banqueiro, e aqui pseudo não é uma mistificação, é mesmo falso, falsário, chico-esperto, ladrão ou outro adjectivo semelhante.
Quero ver o que é que vai acontecer a Dias Loureiro, a Duarte Lima e a toda essa corja de abutres indomáveis que se abotoaram, subrepticiamente, com dinheiro que não era deles, que lhes não pertencia.
Quero ver o que é que vai acontecer a figuras (todas elas sinistras) como Proença de Carvalho, Júdice, Vitorino e Gonçalves pereira, sócios-donos dos três-quatro grandes escritórios de advogados deste país que defendem - certamente pagos a peso de ouro - os maiores criminosos de colarinho branco de que em Portugal há memória. Estes senhores, também não deveriam ser postos no seu lugar?
Manuel Feliciano










sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Carlos Moedas

CARLOS MOEDAS
A escolha de Passos Coelho recaiu em Carlos Moedas, ao contrário do que muita gente pensava. A "candidata" do PS, há muito que andava a fazer-se ao piso, chegando mesmo a afirmar que Junker já a tinha elogiado e até premiado, com um "óscar" de bom comportamento em Bruxelas. 
Pensava-se também em Maria Luís Albuquerque, mas desta vez ficou por cá, por causa da gravidade do BES.
Até eu ando apreensivo com as consequências que daqui podem resultar, em virtude do empréstimo que contraí para a aquisição do meu apartamento, mas admito que, muito embora, a situação esteja "preta", haverá certamente uma saída equilibrada e sensata que porá o banco nos carris. Quem não pode ficar impune, no meio de tudo isto, são os responsáveis que agiram criminosamente em todo o processo, sendo necessário o apuramento da verdade e a consequente punição judicial, onde todos os implicados sejam castigados.
Espero que a Justiça portuguesa esteja à altura de semelhante caso porque, caso o não faça, então teremos forçosamente que mudar de Justiça e de juízes, de magistrados judiciais e de toda esta máquina que finge que funciona, mas que afinal não funciona nada.
Há que reflectir seriamente sobre o problema, com toda a honestidade, com toda a imparcialidade e agir, no fundo, agir com a certeza de que ninguém está acima da lei, sejam banqueiros, juízes, políticos, empresários, todos os cidadãos implicados em desonestidades, em atropelos à lei, em crimes contra a sociedade e contra a cidadania.
O problema de fundo da sociedade portuguesa, hoje, é fundamentalmente, uma questão de valores, de valores e princípios fundamentais que devem orientar e enformar (dar forma; poderíamos dizer em linguagem informática, formatar) as pessoas que constituem os cidadãos portugueses. 
Se esses valores fundamentais forem: a honestidade, a integridade, o sentido de justiça, a solidariedade, o ser para os outros, numa perspectiva mais humanista, mais evangélica, então, estaremos no bom caminho para construir uma sociedade aberta, nova, tolerante, que valoriza o trabalho e a participação de cada um no bem comum, numa sociedade moderna e altruísta, desenvolvida e capaz de enfrentar os desafios da sustentabilidade e do futuro.
Se, por outro lado, como praticamente tem acontecido até aqui, salvo raras excepções, os valores que estão no top são os do ter sucesso a qualquer custo, do desenvolvimento económico baseado na exploração das pessoas, o lucro fácil e desenfreado, o exibicionismo foleiro, ignóbil ou sofisticadamente requintado, como o que tem sido patenteado nestes últimos tempos, então, temos de mudar de caminho, mudar de rumo e lutar pela construção de alternativas que passem pela instauração de um novo modo de vida, assente numa vida mais simples, provavelmente mais austera, provavelmente com menos recursos tecnológicos (alguns deles são uma verdadeira tirania e uma ditadura implacável que aos poucos nos vão robotizando, domesticando e sujeitando aos seus desígnios perversos), mas certamente mais fraterna e feliz.
;Manuel Feliciano





















terça-feira, 29 de julho de 2014

Coerência

Coerência precisa-se!
António José Seguro, há dois dias atrás, em campanha eleitoral, revelou estar confiante na vitória nas primárias frente a Costa e nas legislativas, frente a Passos. O raciocínio parece evidente. Se derrotar Costa, apresentar-se-á frente a Passos. Se não derrotar Costa está feito ao bife e tem de procurar outro destino. Logo, o seu combate decisivo é com Costa e seus apaniguados. Para derrotar Costa terá de ter muita imaginação e sobretudo ser coerente. A coerência é talvez o valor mais importante que um político deve apresentar. 
Terá de dizer, em primeiro lugar, a Costa que é coerente, ao contrário dele que é incoerente. Coerente porque fiel ao partido, ao contrário de Costa que foi incoerente em relação ao historial do partido socialista - nenhum candidato a secretário-geral traiu até agora o seu secretário-geral em funções, e Costa fê-lo, como disse recentemente João Soares que, aqui, deu uma ensaboadela no pai, acusando-o de passar por cima de tudo e de todos, o que revela o estado de fraqueza geral que vem patenteando neste tempos que são os últimos.
Terá de dizer, em segundo lugar a Costa que não anda a reboque de ninguém, como o faz Costa que anda a reboque de Pacheco Pereira, Mário Soares, os 25 ex-fundadores do partido socialista, muitos deles peritos na arte de bem cavalgar a onda do oportunismo e das novas oportunidades, os sete ou oito ex-presidentes da juventude socialista, e tantos outros feitos com o passado recente do socratismo e que agora já estão de garras afiadas a deitar à presa, só porque os anima a sede devoradora do poder, a sede insaciável de tudo dominar e nada repartir, como os grandes açambarcadores de tachos e empregos vários no setor do Estado, nas fundações, nos institutos públicos, nos conselhos gerais e assembleias gerais dos bancos, das seguradoras, enfim, um rol infindo de oportunidades para acumular cargos e funções, a troco de uns subsídios mais ou menos certos nas suas contas bancárias, de umas avenças semanais em programas de televisão onde são comentadores, enfim, de dinheiro que, devendo ser repartido por jovens licenciados que aspiravam a entrar na vida activa, se veem relegados para segundo plano, engrossando o contigente de desempregados que enxameiam a sociedade portuguesa.
Outra ideia que Seguro terá de cavalgar a toda a sela é aquela que, ao contrário de Costa, não tem telhados de vidro e não está comprometido com situações dúbias, nem fez parte de governos do Ps recente, como o próprio Costa participou. Estamos a referir-nos à participação deste no governo de António Guterres, onde foi ministro de estado e da justiça e onde, logo que tomou posse o governo de Guterres fez 5 mil e tais nomeações, depois de ter apregoado  "no jobs for the boys".
Manuel Feliciano

Comentadores

Comentadores
Marques Mendes, promovido recentemente a grande comentador da SIC, não pára de nos surpreender. Ele e o doutor Mário Soares, continuam iguais a si próprios, duas nulidades exemplares para o anedotário do folclore a que as estações de televisão nos habituaram, de há algum tempo a esta parte.
Marques Mendes, mais conhecido na gíria anedotária por "Ganda Nóia", - há quem o apelide de "o bufo" do Governo da Coligação - figura rasteira e, nalguns casos, mesquinha, a atestar um QI de duvidosa idoneidade, disse há dias, em tempo nobre de antena, que "António Costa irá ganhar as eleições no PS".
Que novidade extraordinária! Que subtileza de argumentação! Que rasgo luminoso de espírito tão brilhante!
Enquanto as televisões continuarem a aureolar este e outros comentadores do regime, Portugal não vai aguentar por mais tempo tanta sabedoria e terá forçosamente que os exportar, pois tamanha inteligência é urgente que se espalhe pelo mundo, que ilumine as trevas da ignorância de tantos povos, enfim, que resplandeça por todo o orbe esta sabedoria fantástica e inaudita! Se começarmos a exportar estes comentadores fantásticos que transpiram sabedoria por todos os poros, como por exemplo aquele quarteto impagável do programa da Sic notícias,"Eixo do mal", qual deles o mais inteligente e sagaz, temos resolvido o nosso problema estrutural da dívida pública. Aqui fica portanto esta sugestão para os entendidos do Banco de Portugal ou do Ministério das finanças: dado que possuímos o maior manancial de comentadores excepcionais por metro quadrado de toda a europa, quiçá de todo o mundo, a solução parece definitivamente encontrada - vendam-se estas "jóias da coroa portuguesa" e tudo deslizará sobre carris.
Estou a lembrar-me, não apenas destas quatro luminárias do nosso regime - o António Gonçalves, do DN, é que vos topa bem! - mas de tantos outros como o André Macedo, do Dinheiro Vivo, o tal que na última campanha para as legislativas dizia sempre, alto e bom som, que o vencedor de todos os debates televisivos era - quem havia de ser? - o seu querido e indefectível José Sócrates. Se a estes juntarmos o famosíssimo Baldaia - lembram-se do tempo em que o ex-primeiro ministro socialista queria apoderar-se da TVI e já se falava de Baldaia para ser o seu homem forte aí - e tantos outros desejosos do regresso do pequeno ditador, exilado em Paris, onde dá um bitaites para uma farmacêutica suiça, então podemos dizer que há uma constelação fantástica de comentadores, pagos a peso de ouro, como Marcelo, - cuja ligação de amizade a Salgado parece comprometer definitivamente a sua candidatura à presidência da república (também não entendo o que poderia Marcelo fazer aí, se todo o seu carisma vai para a má língua, no bom sentido, claro), como Manuela, como Marques Mendes, Pacheco Pereira e tantos outros que, no fundo, mantêm o país refém da sua agenda mediática e dos seus desígnios insondáveis (vá-se lá saber quais!?).
Manuel Feliciano



sábado, 26 de julho de 2014

Conspiratio

CONSPIRAÇÃO
Há muito, muito tempo que se adivinhava isto. Desde que Pacheco Pereira perdeu o juízo e decidiu, por sua conta e risco, banir do mapa Passos Coelho, valendo-se para isso da importante cobertura que detém na comunicação social - veja-se o tempo de antena de que dispõe na Sic notícias, para não falar do jornal Público e outros cuja leitura dispenso, voluntária e energicamente, já que entendo que o pseudo-intelectual de esquerda (convertido ao cavaquismo nos anos oitenta, assim como outros, oriundos do estalinismo mais empedernido, como Zita Seabra e Silva Marques), não passa afinal de um ressabiado do mais puro jacobinismo que destila um ódio de estimação superlativo, que há muito não víamos na sociedade portuguesa. Pois, continuando, desde que Pacheco Pereira se arvorou em lídimo defensor da social democracia para a contrapor a Passos, como o máximo defensor do neoliberalismo e dos valores retrógados do post modernismo, que não cessa de, a tempo e a contratempo, o apelidar de coveiro de Portugal e dos portugueses, augurando-lhe um destino trágico e catastrófico nas próximas eleições legislativas. 
Não foi por acaso, que na noite das últimas eleições para o Parlamento europeu desafiou, no seu afã de destronar o jovem iniciado e primeiro-ministro, desafiou António Costa a avançar para destronar Seguro, ao mesmo tempo que na Fundação Soares, este, com Paulo campos e Vitor Ramalho, entre outros, propunham o atual presidente da Câmara de Lisboa, para candidato a líder socialista. É claro que Costa, entusiasmado pelo convite de tanta sumidade e clarividência, disse logo que sim e instalou-se o caos no partido mais expressivo da velha esquerda na oposição.
Por outro, Pacheco Pereira, como certamente não tem mais nada que fazer que dedicar-se as estas questões, já tinha imaginado, cogitado, arquitetado, uma saída à medida da sua mente brilhante, para a sucessão de Passos, indicando, desde logo, e sem hesitações, o ex-autarca do Porto, Rui Rio, agora regressado à sua função de docente na sua Faculdade de Economia. O mesmo se diga de António Capucho, outro dissidente do actual Psd, mais familiarizado ultimamente com figuras gradas do partido socialista do que com gente próxima do presidente do seu ex-partido. Estou em crer que podem os dois enviar uma embaixada, como a do rei D. Manuel ao Papa, que Rui Rio não só não lhes fará a vontade, como nunca enveredará por qualquer acto de traição semelhante à que António Costa fez em relação a António José Seguro. É que Rio é daqueles que ainda prezam o sentido de honra e de dever, o que não existe lá para os lados da arregimentada conspiração socialistazinha, onde pontificam os Césares, os Coelhos, os Campos, os 25 ex-fundadores do partido, com Mário Soares à frente - uma nota de grande dignidade para o seu filho, João Soares que se demarcou sem hesitação da posição do pai, a quem disse, eufemisticamente, que era um disparate total, aquele texto sobre o punho no ar e os que agora têm medo de tratar os outros por camaradas - , os 8 ex-presidentes da juventude socialista, os ex-"quadros" das empresas públicas, que espreitam, agora, atrelando-se a Costa,  a sua oportunidadezinha de ganharem mais uns tachos, uns subsidiozinhos, uns suplementos, um lugarzinho no conselho geral de tal empresa, de tal banco, de tal fundação, de tal instituto público, enfim, aqueles que nos mantêm reféns deste sistema podre e inquinado, ao qual o Psd, o Cds e o Pcp não são imunes.
Agora se compreende todo este frenesim à volta dos binómios Seguro-Costa versus Passos-Rio. 
Se fosse por vontade dos comentadores da nossa praça, os tais iluminados, como Marcelo, Pacheco Pereira, Marques Mendes, o ganda nóia, a própria Manuela, teríamos já amanhã um governo de coligação Psd-Ps, mas creio que ainda vai demorar muito tempo até que esse grande desígnio, como ele, Pacheco Pereira gosta de dizer, se torne realidade. 
É confrangedor constatar que há pessoas que ainda não perceberam que o "seu" tempo já passou, já não tem retorno e que é preciso aprender com aquele homenzinho que andava lá pela Judeia a mergulhar as pessoas no rio jordão: "é preciso que eu diminua e Ele cresça, que eu me apague e que Ele sobressaia".
Manuel Feliciano

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Irmão Tareco

IRMÃO TARECO
São Francisco de Assis nutria um especial carinho pelas criaturas e, abrangendo-as, pelos animais. Toda a gente já ouviu falar do célebre encontro com o lobo de Gúbio. Para Francisco tudo derivava deste princípio básico e estruturante: somos irmãos de todos os seres vivos porque basicamente todos temos algo em comum: a nossa dependência de Deus. A descoberta do sentido da Paternidade de Deus, torna-nos a todos irmãos, solidários, corresponsáveis neste mundo de todos e para todos. É assim a visão franciscana da vida, a mundividência franciscana. 
Vem isto a propósito da visita do Tareco.
Tareco é o gato de uns familiares próximos que vai estar connosco uns dias. Já tinha estado no ano passado e este ano volta a repetir a façanha. Chegou, ambientou-se, ficou, sem lamúrias nem reprimendas. É verdadeiramente um gato especial. Limpo, asseado, calmo - acho que inteligente e culto - tem passado o tempo numa quieta azáfama alegre e prazenteira de nos observar, cheirar, roçar pelas nossas pernas, como a dizer-nos: "estou aqui a dar-vos o que tenho de melhor - o meu carinho por vós!"
A forma como nos olha e penetra, dá-nos a sensação, por analogia, que estamos noutra dimensão, mais interior, mais espiritual, que apela para algo indizível, talvez inefável.
A sua presença noctívaga pela casa faz-se de um saber estar, um saber comunicar a sua imensa alegria de nos ver por lá, juntos de si. Quando chego, às vezes um pouco tarde, o Tareco lá está à espera e depois rebola-se na sala, pedindo uma carícia, miminhos, numa atitude de encantatória ternura. Agora compreendo como há pessoas que não conseguem viver sem os seus animais e companheiros, prediletos e inseparáveis.
A presença do Tareco entre nós, por outro lado, "obrigou-nos" a mudar para uma atitude mais calma (há mais silêncio, menos gestos precipitados, menos movimentos bruscos, a aproximação deve fazer-se lenta, como se estivéssemos a realizar um filme em câmara lenta, ao ralenti), mais concertada, para evitarmos que se assuste, que fique em pânico ou que reaja abruptamente e se refugie na casa de banho, enroscado num tapete ou arrumadinho numa caixa de sapatos abandonada.
É bom saborearmos estes momentos todos juntos. O nosso filho, Francisco anda excitadíssimo e só precisa de moderar um pouco a sua agitação interior para tirar todo o proveito desta experiência encantadora. A Gisela acha-o um mimo e uma adorável ternura. Eu converti-me franciscanamente ao cântico do irmão Sol e do irmão Tareco.
Leonardo Santos


segunda-feira, 21 de julho de 2014

GANDA NOIA

GANDA NOIA
Marques Mendes, o raquítico comentador nacional que a Sic Notícias consagrou, continua a evidenciar toda a sua paranóia em relação ao governo actual, aproveitando todos os momentos para fazer valer os seus argumentos em relação à desintegração da coligação governativa, não muito dissonante de Alberto João Jardim que acrescentava, há dias, que o Psd iria ter um resultado catastrófico nas eleições legislstivas que se perfilam aí, no próximo ano. 
Olha quem ele é! Que perfil tão jeitoso de político que deveria, a esta hora, estar com os costados a passar férias na prisão, como já o fez Isaltino, há bem pouco tempo e por muito menos. 
Alberto João, líder do Psd Madeira, há montes de anos, é um dos políticos mais tenebrosos, de que há memória em  Portugal.
A sua popularidade, nos últimos tempos, caiu em queda livre, antevendo-se um futuro pouco brilhante para alguém que, detendo o poder durante décadas, não foi capaz de pôr  em prática uma política verdadeiramente dirigida às pessoas, com equidade e sentido de justiça, partilhando o poder, delegando, criando condições para deixar um rasto de humanidade nos serviços que, pelo contrário, sempre controlou as ferro e fogo. Em vez disso, meteu-se em coisas que não devia e, fazendo alarde da sua costela de ditador, desatou a fazer obras e mais obras, de duvidosa necessidade, enchendo a ilha de túneis e mais túneis, descaracterizando a paisagem, numa clara visão chico-espertista de líder, autista e convencido, que olha só para o seu umbigo, ao mesmo tempo que arrota uns bitaites sobre a República que o sustenta e alimenta, queixando-se das interioridades que mais não são do que falácias vazias e atoardas boçais.
Mas regressemos a Marques Mendes. Tenho dificuldade em ver nele, agora catapultado para os píncaros do comentário político, alguém que, com credibilidade, diga alguma coisa de válido e estruturante para a sociedade, que no fundo é o que um comentador de jeito deve fazer. Não se limitar a criticar por criticar, mas apontar balizas, apresentar perspectivas novas que sejam o suporte de algo que se deve implementar e pôr em prática. Ao invés, Marques Mendes, o Ganda Noia,  na gíria humorística, aparece como alguém que, beneficiando de uma posição privilegiada em relação ao comum dos comentadores, por possuir uma "rede de espionagem, dentro e fora do conselho de ministros" - acho mesmo até que há um acordo tácito entre ambos (alguém ligado ao Governo e ele próprio, no sentido das "fugas" servirem para "atirar o barro à parede", isto é, para ver como é que as pessoas reagem perante as medidas que estarão para ser aplicadas) - o que lhe dá aquele ar de bufo, incontornável desta sociedade miserável em que vivemos. A Patrícia Castanheira e o Fábio Benídeo, do Portugalex é que te topam bem!
O que mais me chateia em tudo isto é que sejam precisamente estes comentadores de meia tigela, onde também, de certa maneira, está incluído Marcelo Rebelo de Sousa, Pacheco Pereira, o verrinoso e incansável agitador de fantasmas, e outros que, armando-se em omniscientes detentores da verdade absoluta que só eles possuem - ai que saudades dos tempos estalinistas onde bebera esta filosofia! -  comandam, inapelavelmente, a nossa agenda política. Por que é somos obrigados a aturar esta gente, fabricadora de cenários, que vive no mundo do faz de conta e que cria este mundo do faz de conta? Como diria António Vieira: "Ó tempo, tão precioso e tão perdido!"
Manuel Feliciano

segunda-feira, 14 de julho de 2014

LEITURAS

REDESCOBRIR EÇA
Nos últimos dias de trabalho deste ano letivo, pus-me a reler Eça, mais precisamente "O Mandarim", obra fantástica e fascinante, cheia de preciosidades e de encantamento.
No prólogo, é-nos dado o mote para a reflexão que se pretende inculcar. Dois amigos, dialogam. Diz o primeiro (bebendo conhaque e soda, debaixo de árvores, à beira-de água):
- Camarada,  por estes calores do Estio que embotam a ponta da sagacidade, repousemos do áspero estudo da Realidade humana...
Partamos para os campos do Sonho, vaguear por essas azuladas colinas românticas onde se ergue a torre abandonada do Sobrenatural, e musgos frescos recobrem as ruínas do Idealismo...
Façamos fantasia!...
O outro responde:
- Mas, sobriamente, camarada, parcamente!... E como nas sábias e amáveis alegorias da Renascença, misturando-lhe sempre uma Moralidade discreta... (Eça de Queirós, O Mandarim, Ed. Livros de Brasil, 2003, Lisboa, página 17).
Há dias, querendo mandar um mail a uma colega de profissão, e para o tornar mais interessante, resolvi citar esta passagem, que no fundo, introduz a temática do conto ficcional, em contraposição com o conto realista, assente no estudo da realidade concreta. Mandei a mensagem, mas como não obtivesse retorno, questionei-a sobre se já tinha recebido os três anexos de um trabalho em comum. Mais tarde, na companhia de outras colegas de trabalho, constatei o meu lapso: tinha enviado "tudo", os anexos e o texto queirosiano, para uma outra pessoa que por sinal também se chamava Maria. O que não se riram elas, dos dizeres do mestre da escrita, ao atribuir significados e conotações sui generis, só pelo facto de não estarem dentro do contexto. Valeu a pena o desvio da mensagem, só pelo prazer de rirmos juntos.
Continuemos. Noutra reunião de disciplina, ao ser sugerido, nos cursos profissionais, a abordagem de uma obra de Eça de Queirós no 12º ano, quase todos referiram ou "Os Maias" ou "A cidade e as serras". Eu disparei: 
- E por que não "O Mandarim?"
"Eu chamo-me Teodoro - e fui amanuense do Ministério do Reino.
Nesse tempo, vivia eu à Travessa da Conceição, nº 106, na casa de hóspedes da D. Augusta, a esplêndida D. Augusta, viúva do major Marques. Tinha dois companheiros: o Cabrita, empregado na Administração do Bairro Central, esguio e amarelo como uma tocha de enterro; e o possante, o exuberante tenente Couceiro, grande tocador de viola francesa.
A minha existência era bem equilibrada e suave. Toda a semana, de mangas de lustrina à carteira da minha repartição, ia lançando, numa formosa letra cursiva, sobre o papel "Tojal" do Estado, estas frases fáceis: "Ilmº e Exmº Sr. - Tenho a honra de comunicar a V. Exª... Tenho a honra de passar às mãos de V. Exª..."
Aos domingos repousava: instalava-me então no canapé da sala de jantar, de cachimbo nos dentes, e admirava a D. Augusta, que, em dias de missa, costumava limpar com clara de ovo a caspa do tenente Couceiro. Esta hora, sobretudo no Verão, era deliciosa: pelas janelas meio cerradas penetrava o bafo da soalheira, algum repique distante dos sinos da Conceição Nova e o arrulhar das rolas na varanda; a monótona sussurração das moscas balançava-se sobre a velha cambraia, antigo véu nupcial da Madame Marques, que cobria agora no aparador os pratos de cerejas bicais; pouco a pouco o tenente, envolvido num lençol como um ídolo no seu manto, ia adormecendo, sob a fricção mole das carinhosas mãos da D. Augusta; e ela, arrebitando o dedo mínimo branquinho e papudo, sulcava-lhe as repas lustrosas com o pentezinho dos bichos...
Eu então, enternecido, dizia à deleitosa senhora:
- Ai D. Augusta, que anjo que é!
Ela ria; chama-me enguiço! Eu sorria, sem me escandalizar. "Enguiço" era com efeito o nome que me davam na casa - por eu ser magro, entrar sempre as portas com o pé direito, tremer de ratos, ter à cabeceira da cama uma litografia de Nossa senhora das Dores que pertencera à mamã, e corcovar. Infelizmente corcovo - do muito que verguei o espinhaço, na Universidade, recuando como uma pega assustada diante dos senhores lentes; na repartição, dobrando a fronte ao pó perante os meus diretores-gerais. Esta atitude de resto convém ao bacharel; ela mantém a disciplina num Estado bem organizado; e a mim garantia-me a tranquilidade dos domingos, o uso de alguma roupa branca e vinte mil réis mensais".
Aqui fica este aperitivo para nos deixarmos embrenhar no mundo da escrita maravilhosa de Eça e da sua mundivisão, onde nunca falta o seu grande sentido de ironia, de humor requintado, de crítica social, política e religiosa.
Bom proveito!
Manuel Feliciano

sábado, 12 de julho de 2014

O regime do sistema

O REGIME DO SISTEMA
Este apontamento poderia também intitular-se: "O sistema do regime". Vejamos se nos entendemos. Quando falo em regime do sistema, isto significa que vivemos num regime, que por sinal é um regime democrático, que resulta de eleições livres, mas que assenta naquilo a que chamo de "sistema". E o que é o sistema? O sistema é todo um conjunto de estruturas e de pessoas que se apoderaram do Estado e que o mantêm refém dos interesses dos vários blocos que constituem os partidos que detêm o poder desde o 25 de abril de 1974, viciando assim o próprio regime democrático. 
Podemos dizer que, grosso modo, os partidos que fazem parte do bloco central (PS e PSD) são os principais recrutadores destas pessoas e estruturas que se apoderaram do País, mas também o CDS, que exerce e exerceu funções governativas, não pode ficar de fora desta problemática, nem mesmo o PCP que, igualmente exerceu funções governativas no período imediato ao 25 de Abril de que resultaram também consequências graves para o futuro do País. Em suma, os grandes partidos políticos que governaram ou de alguma forma assumiram funções de chefia nos vários sucessivos governos, são os grandes responsáveis pelo estado de degradação económica, social e ética a que o País chegou, daí resultando consequências gravíssimas para o futuro de Portugal. A vinda da troika exemplifica e explica a situação desastrosa a que Portugal chegou e que parece não ter solução possível, dentro do quadro institucional.
Mas regressemos ao "Sistema". Então o que fizeram"eles" (E nós já definimos quem são eles!)?
Em primeiro lugar tomaram posse como deputados da Nação. Na Assembleia da Republica criaram uma Constituição que, em termos gerais é uma boa Constituição onde os direitos, liberdades e garantias são o ponto forte do regime democrático. No entanto, a par disto foi sendo criada Legislação, na Assembleia da República, que ia subvertendo, a pouco e pouco, o espírito da própria Constituição, legislação essa que revertia a favor dos próprios (deputados, ministros, presidentes da república, juízes e magistrados, cargos de chefia do sector do Estado, etc, que se traduziam em isenções, privilégios, subvenções, mordomias, suplementos, etecetera, de que o comum dos cidadãos está privado, mas que "eles" detêm, ad eternum, para sempre.
Em segundo lugar, os membros do Governo passaram a poder nomear para as empresas públicas e do sector do Estado os gestores, recrutados dos seus ambientes partidários, que, muitos deles, não tinham competência para os cargos, alguns deles teriam eventualmente, mas, ambos, os competentes e os incompetentes, pagos principescamente, chorudamente, escandalosamente, obscenamente, com todas as mordomias de gente rica que não sabe o que é o trabalho e o que custa trabalhar, chegando mesmo a terem prémios de produtividade quando as empresas apresentavam prejuízos astronómicos.
Conforme a sucessão dos governos, estes cargos, das Empresas Públicas iam rodando, ao mesmo tempo que se criavam novos empregos nas Fundações, Institutos Públicos, a fim de alimentarem o clientelismo dos partidos e dos seus amigos, sendo consensual, entre "eles", a rotatividade dos cargos e funções, já que o importante era sacar o máximo, tirar o maior proveito possível das grandes e novas oportunidade surgidas.
Com a cumplicidade de todos os Presidentes da República e dos próprios tribunais (Constitucional, Supremo Tribunal) foi possível acumular vários cargos e funções durante muitos anos, aumentando sempre os vencimentos dos próprios, criando-se um fosso enorme, desigual e injusto entre os da base da pirâmide (ordenado mínimo) e os do topo (vencimentos inacreditáveis, de nível astronómico).
Com a cumplicidade do poder instituído e da supervisão (Banco de Portugal), foi-se agravando a dívida pública, desmoronando a economia, contraindo-se sempre e sempre mais empréstimos ao poder financeiro, fazendo-se contratos (as célebres Parcerias Público-Privadas) ruinosos para o futuro do País.
Ninguém foi julgado, entretanto, por nenhum crime, como se vivêssemos no mundo de Pangloss, o melhor dos mundos possíveis.
Com este "fartar vilanagem", expressão de Eça, e que eu chamo de "sugar até ao tutano o povo português", chegámos aqui e agora, assim, revoltados, angustiados, "comidos" por esta gente que tem o desplante de, depois de tudo o que fizeram, ainda virem com palpites sobre o que é melhor para o País, qual dos dois candidatos do PS é o melhor para tomar conta de Portugal, no post Passos-Portas.
Isto vem a propósito de várias figuras notáveis da nossa praça proporem o dr António Costa para candidato a primeiro-ministro. De entre elas, já me referi ao dr Nuno Godinho de Matos, em apontamento anterior, e hoje referiria, a título de exemplo, o dr Campos e Cunha. Estas e outras luminárias da nossa praça, especialistas na acumulação de cargos em várias instituições diferentes, têm o condão de nos acicatar, de acirrar o nosso ânimo
apetecendo dizer-lhes, como o prégador da Galileia: "Raça de víboras! Sepulcros caiados! Até quando teremos de vos suportar?"
Manuel Feliciano


sexta-feira, 11 de julho de 2014

Não gosto de corruptos.

NÃO GOSTO DE CORRUPTOS!
Toda a gente sabe que não gosto de corruptos, sejam eles da extrema-direita à extrema-esquerda, passando pelo centro, por todas as posições do centro ou do centrão, tudo o que respirar corrupção, eu detesto e abomino. Nada há nada mais execrável e execrando que um político corrupto, seja ele de que família for.
Para muitos - isto de um político fazer uns favores, ceder umas coisitas, receber umas prendas, aceitar umas lembranças, colaborar nuns pequenos desvios, deixar-se levar na onda do favorzito de pequena monta, enfim, desenrascar-se, safar-se, como se diz por aí, em círculo de amigos - parece normal, quase dentro da legalidade, enfim, aceitável em certo sentido, do mal o menos, fecha-se os olhos e tudo desliza sobre carris. 
Para mim, decididamente não!!!
Na vida em sociedade, a legalidade, que resulta de uma decisão democrática e justa, é o que está certo, isto é, é o que se deve fazer, cumprir, executar.
Vem isto a propósito de quê? Da atitude de cada um face à vida, face ao sentido da vida. É claro que cada um tem a sua mundividência, a sua visão do mundo, das coisas, dos outros e, para aqueles que acreditam, a sua visão de Deus. É a partir da mundividência, que cada um tem, que agimos, situados no aqui e agora ou como diria Ortega Y Gasset "l´ombre és l´ombre y su circunstância", " o homem é o homem e a sua circunstância".
Para que não restem quaisquer dúvidas ou ambiguidades, a minha mundividência implica coisas tão simples, de que muita gente tem medo, como a transparência, a integridade ou, por outras palavras, a honestidade. São princípios basilares sem os quais nada pode ser feito. E dentro desta transparência e honestidade, defendo o princípio fundamental do direito ao trabalho e, ao mesmo tempo, refuto aquilo que é muito comuns nos políticos e seus sequazes, isto é, o pluriemprego. Este é um cancro da vida portuguesa que deve ser combatido tenazmente e apenas pode e deve ser tolerado para aqueles que, usufruindo de um salário miserável e ridículo, não têm hipóteses de sobreviver, senão recorrer a um part time ou um segundo emprego. Voltaremos, em breve.
Manuel Feliciano



terça-feira, 8 de julho de 2014

Tu quoque?

TU QUOQUE?
"Tu quoque" é uma expressão latina que significa: "Também tu?..."
E segundo consta, foi utilizada por Júlio César para referir a traição cometida por seu filho adoptivo Brutus.
Há dois dias atrás, António José Seguro, como se não bastasse o que veio a lume a propósito do apoio dos "25 ex-fundadores do Partido Socialista" a António Costa, viu-se confrontado com a posição, esta nova, dos ex-presidentes da juventude socialista, que à excepção de Jamila, lhe terão voltado as costas e preferido o incontornável Costa que, a cada dia que passa vai angariando mais apoios, mais simpatizantes, mesmo que sejam figuras conotadas com o "regime do sistema", como por exemplo o doutor Campos e Cunha, ex-ministro das finanças de Sócrates. Lá iremos, noutra ocasião.
Tudo começou na noite das eleições europeias, quando, reunidos na Fundação Mário Soares, este, Vitor Ramalho, Paulo Campos e outros conspiravam secretamente, criando cenários, como o que veio acontecer com a "célebre vitória de Pirro" de que Mário Soares fez alarde logo no dia seguinte, comentando para a comunicação social.
Ao mesmo tempo, nessa noite eleitoral, Pacheco Pereira, na Quadratura do Círculo, na sua febre incontrolável de derrubar Passos, provocava António Costa desafiando-o a apresentar-se como alternativa a Seguro. 
A partir daqui, é toda uma correria tonta, desenfreada, voraz a ver quem se mete primeiro em bicos de pés para apoiar Costa em detrimento de Seguro. Este, na sua argumentação, ingénua e simples, interroga-se: "que mal fiz eu a Deus para isto me acontecer", "por que carga de água o céu me cai em cima da cabeça?"
Mas estávamos apenas no princípio de uma longa caminhada até à derrocada final. 
Seguro tem legitimidade em argumentar:
Como é que esta gente me quer retirar o tapete, se ganhei duas eleições seguidas?
Como é que esta gente - mesmo até este imberbes caloiros da ex-juventude socialista - tem o desplante, a desilegância e a malvadez de me atraiçoar pelas costas, como o Costa me está a fazer, duma forma cobarde, miserável e cínica?
Não será uma inconstitucionalidade - já agora que se faz tanto apelo à supervisão do Tribunal Constitucional - aquilo que estão a fazer ao secretário-geral do partido socialista, escolhido e eleito por sufrágio, dentro de um partido democraticamente republicano?
Não constitui isto, uma afronta aos princípios da constitucionalidade democrática? E já agora, o que pensam disto os suprassumos da nossa constituição, os Jorges Miranda, os Canotilhos, os mais reputados experts da matéria? Não estará tudo louco, ao ponto de, só e exclusivamente, me quererem deitar abaixo e me arrumarem definitivamente?
É certo que, por força da campanha a que o Costa me obriga, agora tenho ainda de atacar mais o Governo e os seus desmandos, reafirmando as minhas posições, batendo nas mesmas teclas de há alguns meses a esta parte, mas, com franqueza, o que é que eu poderia fazer mais? Não tenho batido, vociferado todos os dias, malhado todos momentos, a tempo e a contra-tempo, contra o Passos e o Portas, uma espécie de Dupont e Dupont já gasta e decrépita? O que é que ainda me falta fazer? 
Será que tenho de me rebaixar ainda mais, de me curvar ao peso do rapapé, da bajulação, da pose de corte imperial, em que se transformou a campanha do António Costa - carradas e carradas de embaixadores, desejosos de cargos e tachos (porque no ar respira-se poder, saliva-se poder e, consequentemente, glória, esplendor, uma atmosfera de incenso e luzes, de comes-e-bebes à custa do zé povinho). 
Por que carga de água é que um presidente de câmara, ainda para mais com algumas situações pouco esclarecidas que convém esclarecer, me quer passar a perna sem motivo, a mim secretário-geral do partido mais representativo da república e da democracia?
Não será tudo isto uma ingratidão? Tu quoque? Também tu Costa?!
Manuel Feliciano






sábado, 5 de julho de 2014

O manifesto dos 25

O MANIFESTO DOS 25.
É verdadeiramente comovente a saga dos notáveis do partido socialista e a sua equidistante isenção democrática em relação ao seu secretário-geral. Agora deram em massacrá-lo diariamente, estornicando-o em banho-maria, num agonizar lento, a fazer lembrar os tempos da torquemada inquisição medieval.
Ora num, ora noutro dia, lá aparecem os gloriosos vultos da notabilidade socialista a empurrar o seu candidato preferido (António Costa), no dizer de uns "mais fiável",  "em melhores condições internas e externas", segundo outros, "mais preparado" no dizer de quase todos, chegando ao ponto de  lisonjear o seu - por pouco tempo - atual secretário-geral, com o epíteto de "o menos preparado e com menos currículo". Esta última sentença, digo eu, de morte, foi proferida por uma das suas mais notáveis figuras do partido, precisamente Nuno Godinho de Matos, advogado, ex-membro do Parlamento desde 1975, ex-secretário e chefe de gabinete do então ministro da Justiça, Salgado Zenha, o tal que chegou também a ministro das Finanças (e que, no dizer do Dr. Cunhal, nessa altura, lhe teria dito em particular que nada percebia de finanças, mas que fora indigitado para o cargo e que o aceitara com o sentido de responsabilidade que o caracterizava). Voltando a Nuno Godinho de Matos, signatário do dito Manifesto dos 25, há ainda uns pormenores curiosos que convém relembrar: para além de Membro da Comissão Nacional de Eleições, cargo de que se demitiu, na sequência da polémica gerada após ter aceite representar Moita flores, candidato do PSD, à Câmara de Oeiras, 
polémica essa com o candidato do PS à mesma Câmara, Marcos Sá que o acusou de incompatibilidade nas funções e que o obrigou a pedir a demissão desse cargo, Nuno Godinho de Matos, para além de ter sido o advogado dos arguidos alemães no processo de venda dos submarinos ao Estado português, acumula ainda uma interessante representação, sendo precisamente o advogado de Armando Vara, no processo Face Oculta, onde, proferiu prodigiosos comentários, à custa de uma subtil comunicação, especialidade que lhe vem de tempos antigos, a par da excepcional experiência que acumulou na transição para a empresa: Uría Menéndez - Proença de Carvalho (uma das mais "conceituadas" sociedades de advogados, o que em linguagem da especialidade significa: uma das empresas preferidas para pronunciar pareceres jurídicos que os governos encomendam há muitos anos e que constitui um dos maiores cancros, associados ao despesismo do estado republicano), para onde foi em 1978. Convém ainda relembrar que o dito fundador do partido socialista, a propósito da polémica das escutas telefónicas, nomeadamente as que envolviam o antigo ex-primeiro, José Sócrates, considerou, e passo a citar o Jornal de Notícias, "inequívoca a resposta do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha de Nascimento, para as destruir". "Surpreendentemente - continua, no mesmo JN de 19 de Nov. de 2012 - , as escutas continuam a não ser destruídas. Isto, tal como já disse (reafirma Godinho  de Matos) é  uma golpe de estado judiciário, sendo um perfeito disparate o argumento de comparar o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, a um Juíz de instrução de qualquer comarca do país". Se Sócrates e Vara fossem inocentes, qual o receio de serem publicadas as suas palavras? Por que é que, em França, o ex-presidente Sarkosy vai a tribunal responder por um crime de tráfico de influências, com base em escutas telefónicas e o ex-primeiro ministro passa incólume no processo das escutas? Quem o defende e porquê? E já agora, por que razão Noronha de Nascimento compareceu na cerimónia de apresentação do livro de Sócrates sobre a "Tortura em regimes democráticos"? E o que dizer do antigo Procurador geral da República, Pinto Monteiro que também compareceu na dita apresentação? Coincidências, demasiadas coincidências! Já perceberam, agora, por que razão Godinho de Matos apoia Costa? 
Manuel Feliciano



sexta-feira, 27 de junho de 2014

A seita do costume

A SEITA DO COSTUME.
A guerra aberta no partido socialista entre "seguristas e costistas" está para durar e promete um espetáculo divertido e patusco, digno de uma comédia à italiana.
Os argumentos dirimidos, até agora, já não são se prendem com a questão de propostas e perspectivas de como será possível derrotar os partidos do governo, mas antes com questões de credibilidade e de fiabilidade no escrutínio que aí vem, denotando uma desconfiança mútua, não apenas nas condições de acessibilidade à votação do líder, mas também afetando mais profundamente o âmago da alma socialista. ou seja, colocando questões de ética e de idoneidade democrática.
As acusações frequentes e contínuas, quer através dos próprios, quer através dos seus porta-vozes, ou seguidores fiéis,  mostram aquilo a que chegou o partido socialista: um partido quebrado, dividido, destroçado e manietado numa luta intestina que vai acabar mal e por culpa, diga-se com toda a clareza, de um energúmeno que armando-se em messias profético, quis deixar um cargo de responsabilidade à frente da câmara mais emblemática do país, para se aventurar numa odisseia narcisista, eufórica, de rapapé e bajulação, tão ao gosto do seu mentor primordial, o doutor Mário Soares. Como é que ainda ninguém se apercebeu que a constante solicitação do doutor Mário Soares para opinar sobre tudo e mais alguma coisa, atendendo ao grau elevado de senilidade que patenteia, constitui um rude golpe, repleto de malefícios, quer para instituição partidária de que foi líder, quer para o país de que foi primeiro-ministro e presidente da república.
O folhetim continua dentro de momento.
Manuel Feliciano




quinta-feira, 26 de junho de 2014

Pelo sonho é que vamos...

PELO SONHO É QUE VAMOS...
Sebastião da Gama, poeta e professor, deixou-nos muitos poemas, belos e patéticos (no verdadeiro sentido desta palavra: comoventes, sublimes, de ir até às lágrimas - como o páthos grego supõe). Hoje, no dia em que Portugal jogará, provavelmente, o último jogo do Mundial com o Gana, não resisto à tentação de, aqui, vos deixar este poema magnífico:
"Pelo sonho é que vamos, 
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos
Com a mesma alegria,
Ao que desconhecemos
E ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos".
                 (Sebastião da Gama)

Mais palavras para quê?
Leonardo Santos

quarta-feira, 25 de junho de 2014

A estratégia manhosa

A ESTRATÉGIA MANHOSA.
Toda a gente sabe, menos os ingénuos, que a guerra no partido socialista, a contagem de espingardas - como os comentadores gostam de explorar - não ficou definitivamente arrumada, bem pelo contrário. A minagem empreendida pelos homens de Costa, muito mais influente nos meios de comunicação social - veja-se a catrefa de comentadores oriundos do círculo de Sócrates, por exemplo na TV24, - destina-se precisamente a fazer cair o líder atual, mesmo que seja, como dizia Carlos César, através do "apodrecimento" interno da direção de Seguro, uma espécie de implosão suicida que catapultaria António Costa para o poder.
O tom delicodoce de Costa contrasta com um tom mais agressivo de Seguro. Este, em entrevista à RR, ontem, afirmou que se fosse primeiro ministro no tempo de Sócrates não assinaria o memorandum com a troika, nas condições de então, enquanto Costa, também numa entrevista ontem, já não sei a que rádio ou tv, opinara que o partido socialista deveria ter reconhecido os seus erros do passado (referia-se ao consulado de Sócrates?), num claro piscar de olhos ao eleitorado mais ao centro, como que dizendo: descansem que eu não sou assim tão à esquerda e que podem contar comigo mesmo os que são mais conservadores. 
Esta estratégia, a que eu chamei de delicodoce, tem um objetivo e uma finalidade: a destruição, em banho-maria, do seu adversário interno.
Santos Silva, ex-ministro de Sócrates, num ataque cerrado ao atual secretário-geral do seu partido, disse ontem,  na TV24, que "António José Seguro não sabe o que é ser primeiro-ministro nem está preparado para o ser", numa clara oposição a este, preferindo, evidentemente António Costa. Este ex-ministro, cujo gozo maior, aqui há uns tempos atrás, era "malhar na direita!", pelos visto descobriu um outro não menos importante que é "malhar" no seu próprio secretário-geral, apelidando-o de impreparado, logo, incompetente.
E a procissão ainda vai no adro. Daqui para diante aparecerão novos militantes "notáveis", a malhar no pobre do Seguro, sem dó nem piedade. Vereis se estou certo ou estou errado!
Manuel Feliciano










terça-feira, 24 de junho de 2014

Saneamento, já!

SANEAMENTO, JÁ!
Pelos vistos, a excursão de António Costa à província, de tão habituado que estava à sua urbe, correu-lhe mal. E correu-lhe mal, não apenas porque os resultados foram - falando em linguagem futebolística - negativos, uma abada, no Conselho Nacional, como, por outro lado, ainda acabou por ser enxovalhado por uma "velha desdentada" que se colou a uma câmara de televisão e que deu no que deu: manchete a abrir telejornais, etc e tal, como é habitual nesta comunicação social, indigente e sensacionalista, a que já estamos a ficar habituados. 
Depois, segue-se a estratégia costumeira: entrevistam-se os gurus do partido e começam as atoardas do costume, com o peso que lhes dá a gravidade do momento.
Ontem, foi exatamente assim, como não podia deixar de ser. Manuel Alegre, o poeta exilado, armado em porta-voz dos ofendidos da nação pelo salazarismo decrépito, tomou a palavra e, não se refugiando em qualquer nau de verde pinho, veio a público protestar solenemente contra aquilo que, na sua ótica, é impensável num partido democrático como o partido socialista. Mas - e a memória dos homens é curta, muito curta -, então já ninguém se recorda do Francisco de Assis, do verdadeiro achincalhamento de que foi vítima, esse sim!, em Felgueiras(?), onde não apenas lhe mandaram bocas, como agora ao Costa, mas o empurraram e lhe bateram cobardemente?
Bem, o partido socialista, nisto(!), não é tão virgem assim, nem tão cândido, como o caçador de lebres o faz supor, a ponto de logo ali, do alto da sua tribuna comunicacional - e esta gente tem montes de oportunidades para se exprimir, é só querer e abrir a boca - exigir um rigoroso inquérito ao sucedido, o que em linguagem do período revolucionário, no célebre verão quente de 74-75, se vociferava: "Saneamento, já!" 
Para além de Manuel Alegre, outras vozes se têm levantado, considerando o incidente da "velha desdentada" como "instrumentalização ao serviço da atual direção de Seguro.
Agora começo a ter pena do doutor Costa que, coitado, deve ter ficado muito ofendido com uns piropos da "arraia miúda" de que ele foge como o diabo da cruz, agora que se habituara ao quentinho das elites do partido, ávidas de poder e tachos.
Manuel Feliciano



















segunda-feira, 23 de junho de 2014

Rei fraco faz fraca a forte gente

REI FRACO FAZ FRACA A FORTE GENTE (Camões, Os Lusíadas)

Esta frase, criada por Camões n´Os Lusíadas, referia-se a D. Fernando, rei da 1ª dinastia. Segundo o poeta, D. Fernando foi um rei fraco, incompetente, que atirou o país para o abismo, isto é, a sua fraqueza enquanto rei e líder, arrastou o povo que era forte para a fraqueza, para a desgraça.
Há anos atrás, antes de ter ido para Moçambique, eu tinha escrito uma crónica que cheguei a enviar para o Record onde aplicava esta frase, precisamente a Carlos Queirós, enquanto treinador do Sporting, e mantenho o que disse.    
Hoje, volto de novo a usar esta frase lapidar para colá-la a Paulo Bento. Os erros estratégicos que cometeu, na preparação dos jogos com a Alemanha - querendo jogar taco a taco com os germânicos - e ontem com os Estados Unidos - mantendo o mesmo figurino - só provam que não tem arcaboiço para o  lugar. 
E quando um líder é fraquinho, como é o caso, então a equipa perde chama, perde lucidez, perde qualidade e perde jogos!
A sua insistência em não mudar o que é óbvio - por exemplo, a sua recusa em utilizar William Carvalho como trinco da equipa, aliado à sua persistência em jogar com um ponta de lança de fraco calibre, como Hugo Almeida ou Postiga ou Éder - tornou a equipa tão debilitada que, a partir de certa altura, não havendo resposta da equipa no seu todo, passou a depender do seu jogador com maior potencial, como se todos estivessem à espera do "seu milagre salvador". Só que Ronaldo, por motivos óbvios, também não poderia estar bem e daí a frustração que se apoderou da nação futebolística indígena, muito por culpa de uma comunicação social alienada e claramente infeliz.
As declarações de Cristiano Ronaldo, embora algo infelizes, testemunham o descrédito dos jogadores em relação ao seu líder, Paulo Bento, e à sua incapacidade de usar novos argumentos face às dificuldades encontradas. 
Muitos comentadores, alguns são verdadeiramente "da treta", atiraram-se ao Cristiano, acusando-o de "secundarizar, como o disse Manuel José, os colegas de grupo", outros de "saber jogar melhor com os pés, do que falar para a comunicação social", como afirmou Paulo Sérgio, sendo apoiado por Paulo Fonseca noutros argumentos, mas com a mesma crítica ao capitão da seleção.
O que me apetece dizer é que "estas luminárias do futebol português", ainda têm que comer muita relva para chegar aos calcanhares de Ronaldo, provando-se assim que qualquer treinadorzeco de segundo plano, mesmo que tenha passado pelo futebol piramidal terceiro-mundista, pode até ganhar uns cobres a fazer comentários nas televisões por cabo, mas não lhes fica bem desdenhar daquele que foi considerado o melhor jogador do mundo nesta época.
Manuel Feliciano












O tiro pela culatra

O TIRO PELA CULATRA
O dia de ontem, para além da desgraça de termos, praticamente, ficado eliminados com o resultado de 2-2 frente aos Estados Unidos, foi assinalado por um pormenor interessante, lá para os lados de Ermesinde. O aureolado de Lisboa, possuidor de uma inteligência superior, no dizer do magnânimo doutor Soares, rodeado da sua camarilha pseudo-socialista, quase toda ela oriunda do chico-espertista círculo de Sócrates, tenebroso e sinistro (veja-se o reaparecimento dos Lellos, Césares e Vitalinos, tendo o 2º falado de "apodrecimento da direção do partido"), deslocara-se da capital à Província - desta vez sem gravata e sem fato a condizer, porque não ia fazer nenhuma comunicação pública, nenhum comício para os seus apaniguados, nem para a comunicação social, ávida e excitada com estes sensacionalismos rasteiros - mas, como dizia, o doutor Costa, sempre muito bem acompanhado, julgava, pensava, cogitava nas circunvalações superiores do seu cérebro, que era só chegar ali, diga-se, ao Conselho Nacional do PS, e, como por mágica, tomava o poder, "assaltava o poder", na expressão de João Soares (que há dias, num gesto de muita coragem, chamou imbecil ao pai, não por estas palavras, mas o que ele queria dizer era exatamente isso, puxando de um eufemismo afirmara que o texto do pai era "um texto disparatado" - a propósito do punho erguido e que havia socialistas que tinham vergonha de dizer que eram socialistas e de se chamarem camaradas, numa alusão a Seguro e o seu núcleo duro). 
Pois, o resultado do Conselho Nacional, foi um golpe terrível para quem quer ser líder, sem passar pelo crivo do escrutínio livre e democrático. Armado em campeão, em fanfarrão popular, apoiado pela clique gastadora que levou o país à ruína, pela mesma clique que saliva poder e "novas oportunidades", António Costa entrou entusiasmadíssimo e quase eufórico, mas saiu com o rabo entre as pernas e vai ter que sujeitar-se ao veredicto. Mesmo com toda a comunicação social a movimentar-se no sentido de o apoiar (veja-se a vaga de despedimentos no DN, sinal de que o Joaquim da Controlinveste anda a preparar alguma coisa nos bastidores), o doutor Costa não tem uma tarefa fácil, porque os que lá estão, legitimamente, também não estão dispostos a deixar cair o poder na rua, entregando-o a um suposto candidato fora de tempo (no dizer de Eurico Dias) e ainda por cima traidor, digo eu.
Manuel Feliciano

domingo, 22 de junho de 2014

Temos de ser uma equipa de homens

"Temos de ser uma equipa de homens".
Paulo Bento saiu-se ontem com esta frase lapidar que revela o desnorte de um técnico pouco tarimbado para o cargo. De facto, dizer que temos de ser uma equipa de homens significa que Paulo Bento, lá no fundo, reconhece que os seus jogadores até aqui - e refiro-me apenas ao jogo com a Alemanha - foram uma equipa de meninas, uma equipa efeminada que deixou muito a desejar, e isto constitui uma crítica fortíssima ao seu grupo de trabalho de que é líder. Por outro lado, Paulo Bento, ao fazer tal afirmação está a atirar para os outros - diga-se, os jogadores - a responsabilidade que deveria assumir e que nunca assumiu, enquanto principal responsável pelo desastre, pela hecatombe, pelo rotundo fracasso da seleção nacional que deixou muita gente à beira de um ataque de pânico. Os mais experimentados, entre os quais me coloco, talvez não sofressem tanto assim, já que, logo após a divulgação da equipa que iria defrontar a turma germânica, tinha comentado com a minha mulher: "Com este onze inicial, vamos perder de certeza!". Não sabia efetivamente era por quantos.
Paulo Bento, na minha perspectiva, foi o principal responsável pela derrota portuguesa face à Alemanha, ao conceber uma equipa, um onze, onde estavam jogadores que nem se deveriam ter equipado. Estou-me a referir pelo menos a um ou dois jogadores. Mais do que mencioná-los, importa dizer o que, na minha leitura - e reforço sempre isto, com toda a honestidade - falhou. 
Paulo Bento falhou, em primeiro lugar, porque quis jogar taco a taco com a Alemanha, isto é, foi seu desejo, primordial, desafiar a Alemanha, aquilo que em linguagem filosófica se designa como hybris, ousar desafiar os deuses, ousar desafiar o destino (não que o não devamos fazer, mas noutras circunstâncias), ousar desafiar uma equipa poderosa, usando as mesmas armas. Ora isto estrategicamente foi um erro de todo o tamanho, um erro de palmatória! Não se pode jogar contra uma equipa forte fisicamente com as mesmas armas que o adversário. Explicando melhor: a presença de Hugo Almeida no eixo de ataque de Portugal, como ponta-de-lança, no meio de dois centrais altos, espadaúdos e lentos como Metzaker e Hummels, é chover no molhado, é não trazer nada de novo ao jogo, como foi provado em jogo. Para ali deveria ter sido indigitado Cristiano Ronaldo que pela sua velocidade e rapidez poderia ter surpreendido aqueles rapazes "altos e loiros". Portanto, esta escolha de Paulo Bento, ao optar por Hugo Almeida revelou-se completamente ineficaz e infeliz, ainda por cima o jogador teve uma época cheia de problemas físicos e não estava minimamente em forma para sequer poder ser selecionado.
Por outro lado, a opção por Miguel Veloso, como trinco, ainda que não fosse tão dispicienda, poderia ser entendida se, a seu lado jogasse Wiliam Carvalho, dos dois, o que fez uma época melhor e o que estava ou está em melhor forma. Basicamente, Portugal, para surpreender a Alemanha - porque o factor surpresa em futebol é que é determinante e não o jogar taco-a-taco ou, como se costuma dizer hoje, "olhos nos olhos" - deveria ter jogado com mais homens no meio campo, para poder ter o controlo do jogo e enervar os alemães, isto é, obrigá-los a "cheirar a bola", a correr atrás da bola.
Em vez disso, o que fez Paulo Bento? Optou por um sistema convencional, onde na luta corpo a corpo os alemães superaram os portugueses. É caso para dizer que se tivéssemos um treinador italiano, um treinador do contra-ataque, como por exemplo o já falecido Bearzot ou o ainda vivo Trapatonni, teríamos com toda a probabilidade a hipótese de empatar ou ganhar o jogo. 
O que faltou a Paulo bento foi preparar bem o jogo, ignorando o sistema tático alemão e querer fazer-lhe frente, pensando que, por termos "o melhor jogador do mundo" eram favas contadas! Nada mais falso.
Jogando com mais pedras no meio campo seria possível contrariar o poderio alemão nessa zona, toda ela bem povoada de grandes jogadores como Lham (agora adaptado à posição 6, depois da ida de Guardiola para o Bayern), Kedhira, Kroos, Ozil e Goetz, deixando lá à frente o inevitável Muller. Era o que deveríamos fazer se Paulo Bento não fosse tão fraquinho a analisar o jogo dos alemães.
Por mim, teríamos jogado sem ponta-de-lança, sem Hugo Almeida (o rapaz, coitado, não tem culpa nenhuma, culpado é quem lá o mete!) e com Cristiano e Nani como "interiores", usando a gíria antiga, ou se quisermos como alas a entrar para dentro. 
Outra hipótese, a melhor para mim sem dúvida, no caso de querermos jogar com ponta-de-lança, alinhávamos com Cristiano aí, fazendo aparecer Coentrão como médio esquerdo e colocando Miguel Veloso a lateral, fazendo os dois o corredor, ora vai um, ora outro para se refrescarem e não se desgastarem tanto. Wiliam ocuparia o lugar de trinco de Veloso, mantendo-se Moutinho e Meireles como médios de pressão a lançar e a apoiar Nani e Cristiano. Em suma, Paulo Bento perdeu uma grande oportunidade de se afirmar como técnico competente e, desgraçadamente, atirou-nos para o fundo, para uma situação de que é muito difícil sair. O pântano está aí. Conseguiremos sair de lá?
Joaquim Moita

sábado, 21 de junho de 2014

Atualidade do MAS

MAS - MOVIMENTO ANTI-SISTEMA
Quando , há perto de três anos atrás, criámos o Movimento Anti-Sistema, no auge do período socratista, estávamos longe de imaginar que o ditadorzinho encapotado, como lhe chamámos num artigo (ver: "Requiem por um ditadorzinho encapotado"), viesse a cair que nem um tordo, fulminado pelo voto livre e destemido deste povo fantástico e sofredor que é o povo português.
Arrumado Sócrates, numa qualquer loja maçónica de Paris, onde faz vida burguesa à custa do que conseguiu "sacar" ,subrepticiamente (vamos lá ver como vai ficar a investigação do Diap, sobre os cartões dourados que usou durante o seu consulado), e ainda do contrato milionário que aufere duma farmaceutica suíça (que por sinal tinha o exclusivo e o monopólio de uns produtos que fornecia a alguns hospitais portugueses), temos agora o consulado Passos-Portas que é o que é (em parte devido à "herança socialista", em parte devido "às imposições da troika", em parte devido à própria inércia de um executivo que tardou em acertar o passo e que, verdadeiramente, nunca mexeu em profundidade onde deveria ter mexido, como por exemplo nas parcerias público-privadas, nalgumas fundações, nalguns institutos públicos e, também, nos bancos que, como se sabe estão sempre do lado de onde sopra o vento) e que a ano e pouco de eleições legislativas, quando se preparava para aligeirar a carga fiscal dos contribuintes, baixando o irs, como parecia plausível, se viu confrontado com as decisões do celebérrimo Tribunal Constitucional - corpo constituído por doutos especialistas na Constituição da República Portuguesa de 1976. Estes senhores e senhoras deste orgão, fazem-nos lembrar, recuando dois milénios à história bíblica, as sumidades que eram os Doutores da Lei e os Escribas, verdadeiros especialistas da Torá, da Lei de Moisés, mas que temiam a argumentação de um jovem rabi (Ieshuá) vindo lá dos confins da Galileia, gerando um movimento pacífico mas crítico em relação ao poder instituído. Sobre isto falaremos noutra altura.
O que nos apraz sublinhar, aqui e agora, é chegada, o surgimento de um novo candidato a chefe que, passando por cima de tudo o que ética e ética socialista, republicana, pretende destronar o líder atual, apunhalando-o traiçoeira e brutamente, como o fizera Brutus, a ponto de César - o Júlio, não o dos Açores - exclamar: "Tu quoque filli mi Costa?!" Pauper Antonius Iosephus Securitus!
Manuel Feliciano

quarta-feira, 18 de junho de 2014

A terceira via

A TERCEIRA VIA.
António Costa - cada vez mais fato e gravata, menos t-shirt e calça de ganga - , a pose de homem de estado assenta-lhe que nem uma luva (segredam-lhe ao ouvido os peritos em imagem), continua a surpreender-nos com a sua genialidade política. Agora é o famoso discurso da terceira via. Vejam só esta ideia peregrina: "há uma alternativa de que o governo não quer ouvir falar que é (pasme-se!): aumentar a riqueza (e depois vem a explicação - lapaliciana, digo eu), porque se aumentarmos a riqueza, resolveremos o problema das finanças públicas".
Ora, portugueses, aqui está uma ideia genial que vai salvar Portugal e de que o partido socialista se orgulha. E o mais curioso de tudo é que ninguém alguma vez tinha pensado nisto! Portanto, aqui vou eu, com esta ideia brilhante propor-me a secretário geral do PS, com o Ferro Rodrigues já a apoiar-me também mais o Perestrelo, amigalhaço do Sócrates e todas aquelas mentes brilhantes que meteram o país a produzir riqueza.
O doutor António Costa é de facto um génio, uma mente brilhante, ou como diria o sapientíssimo doutor Soares "uma inteligência superior" (enquanto o doutor Seguro, no dizer do grande gurú é inseguro, logo, um asno). Só que há aqui um pequeno problema: como é que o doutor António Costa vai aumentar a riqueza, vai produzir mais riqueza? A questão está no modus faciendi. Como é que um socialista consegue criar mais riqueza? A receita parece mais que evidente: nacionalizando-a.
Aqui está a descoberta da pólvora. Sua excelência, o doutor Costa, agora e daqui para a frente de fato e gravata, sempre, vai aumentar a dita cuja, não criando postos de trabalho, apostando na inovação, arriscando em projetos inovadores, mas precisamente, como num passe de mágica, chamando-a a si, isto é, fazendo como o seu iluminado camarada de partido, Jorge Coelho que, farto de ser um proletário, ousou dizer: "E eu, também não tenho o direito, o legítimo direito de ser rico?"
Manuel Feliciano

sábado, 14 de junho de 2014

Despachem-se! Aviem-se!

Despachem-se!
António Costa, no seu afã, incongruente, de conquistar os militantes do partido (como se eles não tivessem um líder, escolhido há pouco tempo), em viagem pelo país (como se a câmara de Lisboa não fosse nada importante e não lhe desse trabalho nenhum - deve estar a pensar que qualquer Medina pode fazer o que ele faz - e se assim fosse não deveria ter concorrido às últimas eleições), tem-se saído, nas suas últimas intervenções como uma espécie de general romano, do género: veni, vidi, vinci (cheguei, vi e venci), convencido de que são favas contadas as decisões que vêm aí.
Pois eu acho que não. Acho que António Costa, não só não vai vencer coisa nenhuma, como ainda vai ter que meter o rabo entre as pernas e desenrascar-se o melhor que puder na "sua" Lisboa.
Aquele discurso inflamado, retórico, quase patético (no sentido correto desta palavra, isto é, comovente, do pathos grego), perante uma plateia onde não se vislumbra um jovem, antes a velha clique habituada às mordomias e privilégios do regime, mas ainda assim sedenta de poder e de glória (leia-se de tachos), aquele discurso inflamado, dizia, mas cheio de ideias vagas, de lugares comuns que não interessam nem ao menino Jesus, consubstanciam uma visão estática da sociedade, uma visão paternalista do Estado sobre os cidadãos, enfim, uma visão providencialista e estatizante de tudo o que é público. António Costa afirma-se, sem sombra de duvida, como a figura do funcionário público que quer receber um bom vencimento, com outros privilégios acumulados ao longo de décadas, sem mexer uma palha, esperando pacientemente que chegue o dia 15 ou 17 de cada mês, onde na conta bancária vai cair inevitavelmente uma soma larga e robusta.
É para isto que os portugueses de hoje devem estar atentos.
Manuel Feliciano

quinta-feira, 12 de junho de 2014

O peso dos Mercados
Contra todas as previsões que os nossos comentadores do regime vaticinavam há uns meses atrás - e eu gostava de recordar entre outros o Luís Delgado, a Ana Sá Lopes, o André Macedo e outros vira-casacas do jornalismo seguidista -, Portugal, o estado português, voltou ontem aos mercados, conseguindo um êxito assinalável que  foi o de pedir emprestado, a 10 anos, o montante de 900 milhões, a um juro e 3,25%. Para quem dizia que nunca conseguiríamos "ir ao mercado" e se abespinhava contra os que, timidamente, davam o benefício da dúvida ao governo, nesta matéria - e eu gostaria de recordar, por exemplo a opinião equilibrada e sempre ponderada de Raúl Vaz, da Antena 1 - , o que aconteceu, ontem, devia fazê-los corar de vergonha e, se outra razão não houvesse, deveriam ter a coragem de deixar de ser comentadores, dado que não acertam uma e, pasme-se, tudo o que dizem não interessa, nem ao menino Jesus! 
O que me preocupa não é o facto de eles continuarem a ser comentadores de meia tigela, mas o facto de sermos obrigados a "gramá-los" e o que isso representa de despesa inútil do estado português, com tão inúteis criaturas!
Quando é que há coragem de correr definitivamente com tanta incompetência?
Manuel Feliciano

terça-feira, 10 de junho de 2014

Dia de Portugal
A comemoração do 10 de Junho, dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, veio provar o que ando a dizer há muito tempo: há um grupo de cidadãos portugueses que não merecem efectivamente fazer parte desta nação multissecular, deste povo fantástico que é povo português, desta geração de homens e mulheres sábios, educados, humildes, corajosos e destemidos que, ao longo da sua história ousaram sonhar e criar, arriscar e vencer, mesmo sabendo que por vezes os resultados e experiências eram adversos.
O que aconteceu hoje na Guarda, com aquela manifestação orquestrada pela CGTP e pelo sindicalismo parasitário e sugador de recursos, bem instalado na vida à custa do esforço e do trabalho denodado e perseverante dos trabalhadores com ideias claras e visão de futuro.
O que aconteceu hoje na Guarda é vergonhoso demais para ser verdade, é indecoroso e revoltante, face ao estado de saúde do Presidente da República e tudo o que posteriormente veio a acontecer. Aqueles "patriotas", camuflados de sindicalistas, riram-se de Portugal, gozaram com os portugueses que ali estavam para ouvirem a mensagem do PR e revelaram uma falta de educação atroz. O professor Mário Nogueira e toda a sua clique faziam melhor se, em vez de irem para ali chatear os que lá estavam, cantassem a internacional e dessem  vivas ao socialismo marxista-leninista, responsável por tantas ditaduras e pela eliminação de tantas vozes discordantes nos Gulag`s soviéticos.
Manuel Feliciano

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Inteligência superior

   O doutor Mário Soares não pára de nos surpreender. Agora deu-lhe para catalogar os socialistas em dois grupos: os inteligentes e os poucos inteligentes, os inteligentes superiores e os inteligentes inferiores, os supra-sumos e os burros. Segundo o doutor Mário Soares, António José Seguro é inseguro, logo frouxo, isto é, burro, e o doutor António Costa é o novo messias que aí vem para salvar o partido socialista e o país, aureolado e dotado de grande inteligência, melhor dizendo, de inteligência superior. Isto fez-me lembrar aquela cena do filme de Begnigni, "A vida é bela", em que o protagonista, disfarçado de inspector da escola fascista mussoliniana, faz o discurso, ridículo e grotesco, da "raça superior", ariana, baixando as calças e mostrando o traseiro à criançada que ri a bandeiras despregadas. Assim, ficámos a saber, por determinação do doutor Mário Soares que, a partir de agora, qualquer candidato a secretário geral do partido socialista tem de submeter-se à sua "inteligência superior", republicana e agnóstica.
Manuel Feliciano

segunda-feira, 2 de junho de 2014

O novo Messias
Chama-se António Costa e é o novo Messias, não apenas do partido socialista, mas - dizem outros - de Portugal e dos portugueses. Se fosse por vontade do doutor Mário Soares, figura cada vez mais caricata e simplista, amanhã, era já empossado e entronizado, sem haver eleições.
Mas recordemos, por momentos, como tudo começou.
No célebre programa "Quadratura do Círculo", na noite das eleições, que curiosamente começou a partir da meia-noite, vá-se lá saber porquê?, Pacheco Pereira, no seu tão acirrado discurso, jacobino-dialético, vomitando ódio e fezes, contra Passos Coelho, como é seu apanágio, tem a ideia peregrina de, face aos resultados menos conseguidos de Seguro e seus apaniguados, lançar o repto ao seu interlocutor António Costa, desafiando-o, eu dira, instigando-o a tomar a posição do "agora ou nunca", ou avanças, agora, e derrubas, ao mesmo tempo o Seguro e o Passos, ou estás feito ao bife e nunca passarás de uma promessa adiada, porque, se calhar o Guterres vem aí para as presidenciais e tu não te safas com ele. Logo, se avanças, existes; se não avanças, estás condenado ao fracasso, como o Alegre, como tantos que se candidatam sempre, mas nunca ganham. Agora é a tua oportunidade, António! Vai por mim que votarei em ti e assim derrubaremos definitivamente esses aprendizes de política de trazer por casa.
António Costa, entre hesitações e suores cada vez mais visíveis - a língua entaramelava-se de vez em quando - acabou por dizer sim, no dia seguinte, como se lhe tivessem posto a questão drasticamente: estás disposto a casar definitivamente com com o partido - leia-se a sacrossanta República - a ser-lhe fiel em todas as ocasiões e a obedecer aos nossos sagrados gurús republicanos: Mário Soares, Alegre dos copos, patuscadas e tiros às lebres, Almeida Santos dos escritozinhos infantilizados e patuscos, a Arnaut, do serviço nacional de saúde, ao Ramalho, da gestão público-ruinosa das grandes empresa do sector do Estado?
Entre a espada e a parede, Costa assumiu-se, saiu detrás do biombo e passou, nesse mesmo dia, a candidato a messias, não um messias qualquer, mas um messias traidor. 
Coitado do Tozé Seguro! Que cruz a sua, agora que tinha precisamente vencido duas eleições seguidas e se preparava para vencer a terceira, ainda que por pouca margem! Isso não se faz ao homem! Que disparate! - insurge-se Soares, não o pai, mas o filho. Que texto - o do punho erguido e cerrado - mais aberrante, adolescente e disparatado! - conclui o mesmo João, filho.
"Roma não paga a traidores" é a frase que se começa a ouvir em surdina, saída do escombros desta guerra que ainda está no seu início. 
"Agora começo a perceber por que razão Costa avançou para candidato a messias - diz alguém. Aquele ar meio oriental, meio indiano, meio goês, dá-lhe um toque excelente de candidato terceiro-mundista, revolucionário, logo, messias, salvador da pátria, da pátria socialista.
Só que Lisboa não é o país e para além disso há os mercados, inflexíveis e impiedosos, que ditam leis e obrigam a coisas inimagináveis. Viram como surgiu o terceiro resgate, como tivemos de o "gramar?"
Metam-se em aventuras e depois não se venham queixar!
O folhetim segue dentro de momentos.
Manuel Feliciano

segunda-feira, 26 de maio de 2014

A esquerda espremida.
As eleições de ontem para o Parlamento Europeu registaram, mais uma vez, a excepcional sabedoria do povo português.
Muitos analistas e comentadores políticos, a par de outras personalidades emblemáticas da esquerda, como o doutor Mário Soares, já vaticinavam a derrocada dos partidos do governo e antecipavam a euforia da vitória, originando eleições legislativas antecipadas e consequentemente o triunfo imperial do partido socialista, com uma margem substancial, inequívoca e decisiva em relação aos partidos que sustentam o governo.
Nada mais ilusório. O foguetório inicial do partido socialista, exemplificado na intervenção do grande tribuno e sofista, Francisco de Assis, transformou-se a pouco e pouco, à medida que os números desciam à realidade, num acontecimento mais parecido com a câmara ardente do velório do seu secretário geral.
O partido socialista, não só não ganhou com uma margem clara em relação aos seus adversários mais diretos, no que diz respeito à governação do país, como a partir de agora tem um problema acrescido que é o da continuidade do seu leader à frente dos destinos do partido. Por outras palavras, o partido socialista, com as eleições de ontem, ficou de tal maneira espremido que é difícil encontrar alguma gota passível de renovação em tão debilitada fruta. O ciclo seguro do partido socialista afigura-se agora inseguro, como aliás o foi desde sempre. 
No meio de tudo isto, surge a figura impagável de Marinho e Pinto, o intratável ex-bastonário da Ordem dos Advogados, habituado aos berros e às ameaças, do género: ganha, quem vocifera mais e melhor.
Populista quanto baste, vai ser a figura de proa nos próximos meses, até que alguém lhe atire à cara aquilo que José António Saraiva, ex-diretor do Expresso, lhe disse sem hesitar: "O Marinho e Pinto, bastonário (naquela altura) da Ordem dos Advogados é o cão-de-fila do Sócrates". De facto, é curiosamente estranho que tão distinto advogado se tenha mantido calado e silencioso, durante o período gonçalvista do consulado Sócrates. Dá para pensar como é que um espalha-brasas como Marinho e Pinto não tenha mexido uma palha para denunciar as arbitrariedades cometidas por Sócrates e toda a sua clique de figuras sinistras que forjaram e assinaram inúmeras parcerias público-privadas e todo um conjunto de contratos blindados que nos vão pôr a pão e água, durante muitos anos. Aliás o silêncio de Marinho e Pinto é tão eloquente como o dos tão famosos Pinto Monteiro e do antigo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, de que agora não lembro o nome. É sintomático que ambos tenham estado presentes na cerimónia de lançamento do livro de Sócrates sobre a "Tortura em regimes democráticos". Ele lá sabia do que estava a falar e de como a aplicava até à exaustão, recorrendo aos iluminados jogos do maquiavelismo contemporâneo.
T. Vedras, 26 de maio de 2014.
Manuel Feliciano