domingo, 31 de março de 2013

Pressões

   Enquanto o Tribunal Constitucional (TC) não se pronuncia sobre o Orçamento de Estado (OE), os comentadores políticos de trazer-por-casa, a que estamos obrigados a ouvir, não cessam de comentar a grave actuação do primeiro-ministro que, no dizer de quase todos, fez pressão sobre aquele orgão constitucional, chegando ao ponto de a considerar chantagem inadmissível e anti-democrática.
   Então, o primeiro-ministro não pode apelar ao sentido de responsabilidade dos conselheiros daquele órgão? Era o que faltava! Ainda por cima um orgão não eleito democraticamente!
   O que está basicamente em causa é o seguinte: o país, a grande maioria da população portuguesa, vive uma situação de sufoco, de asfixia fiscal que não pode durar muito mais tempo. E para que não dure muito mais tempo, é urgente que o OE seja mantido como está, isto é, que os senhores conselheiros do dito cujo não decidam em função dos cortes que vão ter nos seus vencimentos privilegiados e nas benesses que vêm usufruindo, assim como toda a classe política e aqueles que desempenham cargos em estruturas de chefia nas empresas do estado - toda a gente sabe do que falamos - , mas decidam, sim, em função daquilo que é melhor para o futuro de Portugal e sobretudo das gerações vindouras.
   É importante fazer notar que a contestação a que o governo tem sido sujeito, em matéria de OE, tem vindo, não tanto do povo simples e desprotegido, da população que menos ganha, das pessoas com mais dificuldades económicas, mas sim daqueles que, tendo beneficiado desde sempre de grandes regalias, acham que não as podem perder e que portanto, também em função do seu poder junto dos Media, reclamam, protestam, vociferam, juntam vozes - mesmo que dissonantes do ponto de vista político - mas agora, todos em uníssono, fazem sentir a sua indignação perante o "roubo" da taxa de solidariedade  ou das reformas acima de 1350 euros. O mais curioso de tudo isto é que aqui se juntam ex-ministros, ex-presidentes da república, ex-deputados, ex-gestores públicos, ex-líderes partidários, sindicalistas de todas as tendências, militares e militares na reserva, estivadores, jornalistas, sobretudo de empresas públicas, e outras personagens sinistras a que não falta o bastonário da ordem dos advogados.
   Houve um tempo, não muito longínquo, em que alguém se atreveu a dizer que se deveria suspender a democracia durante um certo tempo - não especificou quanto. Não é necessário ir por aí, mas que vamos ter de fazer escolhas, lá isso vamos. Ou queremos sair do buraco em que nos encontramos, honrando os nossos compromissos, fazendo os necessários sacrifícios, extensíveis a todos (e não apenas aos mesmos) ou agarramo-nos, com unhas e dentes, à Constituição e deixamos tudo na mesma, tudo como está, agravando-se a situação financeira do país, sendo obrigados a um segundo resgate, e tudo porque, à pala da dita Constituição, não se pode mexer aqui, nem ali, nem neste artigozinho fulcral nem naquele absolutamente fundamental, sabendo nós que foi precisamente a reboque da dita Constituição que se cometeram as maiores atrocidades legais, consubstanciadas nos privilégios, isenções, mordomias e benesses que a classe política arrebanhou para si neste período, dito democrático do post 25 de Abril.
Manuel Feliciano

terça-feira, 26 de março de 2013

Onde estão os exemplos?

Li, há algum tempo, a entrevista do grande democrata - para não dizer: querido líder - Mário Soares, ao jornal Diário de Notícias. Nela patenteava, qual gurú iluminado, toda a sua superioridade política, feita de prosápia e de convicta presunção de que "a europa já não tem líderes, que o eixo franco-alemão é o responsável por tudo de mal que nos está a acontecer, que Portugal não vai lá com estas medidas de austeridade, que não conseguiremos desenvencilhar-nos desta visão neoliberal, refinada e cruel, etc.
E houve, porventura, dessa entrevista, algum gesto simples e sincero de mudança de vida, de solidariedade activa e de sintonia com o trágico destino do povo português? Nada, absolutamente nada. E por que razão? Precisamente porque os políticos nada dão e tudo esperam ter, pouco fazem e tudo ambicionam, pouco produzem (mesmo até ao nível das ideias) e nada realizam. Pior: nem se salvam nem deixam que os outros se salvem.
Joaquim Moita

Ganda Noia

   Marques Mendes, que ficou célebre num programa humorístico como o "Ganda Noia", tem-se revelado ultimamente como um caso perdido de alguém com uma dupla personalidade. Comentador político da TVI, arvorado em grande gurú em assuntos de estado, manifesta agora uma faceta curiosa e não menos ambígua que é a de um tipo "bufo" que vem comunicar, em primeira mão, à comunicação social  aquilo que ouviu em conversas de trabalho ou em círculo de amigos de pessoas próximas do governo ou do próprio núcleo-duro de Passos Coelho. Esta nova versão de político rasteiro e minorca traduz aquilo que eu sempre achei que ele fosse: um indivíduo de baixa estatura política e ética. Como é que um ex-ministro de um governo fraco e nú de ideias, liderado por um chefe que tomou decisões desastrosas - veja-se o caso das nomeações de Dias Loureiro, Duarte Lima, Oliveira e Costa e de tanta trampa cavaquista - tem o desplante, a lata de vir "arrotar postas de pescada", segundo a mais recente declaração do selecionador nacional,  sobre assuntos em que revelou tanta incompetência enquanto ministro dos assuntos parlamentares. Ficava-lhe bem um pouco de vergonha na cara e alguma decência para não cair no ridículo. Mas não. Esta nova classe de comentadores políticos, muitos deles ex-líderes políticos e ex-membros de governos de infeliz memória, não tem emenda nenhuma. Fazem lembrar a figura daquela noiva debochada que se arvora, posteriormente, em militante virgem mãe.
   Mas não pensem que é só Marques Mendes. Também Marcelo Rebelo de Sousa, o grande professor Martelo, caustica, no seu ar grave e dogmático, por vezes gasto e cheio de tiques, reveladores de alguma senilidade, o pobre do Pedro Passos Coelho, acusando-o de tudo e mais alguma coisa, sempre que alguma medida lhes mexe no bolso ou nos bolsos dos seus amigos previlegiados dos regime.
   Não estou a tentar defender Passos Coelhos dos tiros no pé que as suas decisões, algumas delas imberbes e pouco pensadas, provocaram na população portuguesa. Estou simplesmente a dizer que, muito embora tenha tomado algumas decisões erradas e precipitadas, nem tudo, todavia, se lhe pode assacar, como se ele fosse o responsável pelo estado calamitoso em que o país estava (e ainda está mergulhado), deixado pela herança socialista de governação socrática. Parece que o querem reabilitar. Mas nesse caso o povo português deve ser muito estúpido para readmitir um incorrigível energúmeno.
Manuel Feliciano

sexta-feira, 22 de março de 2013

O regresso de Sócrates

   Consta que Sócrates foi convidado para comentador da RTP. Os deuses devem estar loucos! Como é possível que um político como Sócrates, o mais mafioso de todos os primeiros-ministros de que há memória em Portugal, possa ser convidado para comentador político, ainda por cima numa televisão paga com o dinheiro dos contribuintes? Se esse sujeito vier a sê-lo, então eu quero deixar de pagar a taxa para o audio-visual que me obrigam a pagar na fatura da luz. Se esse sujeito vier a sê-lo, eu quero estar à porta da RTP para lhe chamar nomes. Se esse sujeito, abjecto e miserável vier a sê-lo, então eu quero entrar por aquela televisão adentro e partir a loiça toda. Se esse sujeito vier a sê-lo, então eu quero, eu quero, eu quero...
   Com que lata a RTP, a equipa responsável pela informação da RTP, vai convidar um ex-primeiro ministro para comentador político, sabendo que esse sujeito, abjecto e nefasto, foi o mais repugnante e famigerado coveiro de Portugal, pelas suas decisões erradas, pelo abuso do poder, pelas jogadas subreptícias que construiu com os seus amigos mais chegados e que constituíam o núcleo duro do anterior Governo do PS?
   Tendo fugido para Paris, onde tem vivido "à grande e à francesa", após a derrota nas últimas legislativas, esse sujeito abjecto e mafioso, não deixou de mexer os seus cordelinhos, manobrando como marionetes os seus mentecaptos sequazes que continuam a nutrir pelo "chefe" uma subserviência canina. É assim que muitos - ele continua a ter muitos adeptos que o bajularam religiosamente a troco de favores e tachos - rejubilaram com o seu hipotético regresso que eu duvido que algum dia se chegue a verificar, deveras.
Faço votos para que nunca regresse. Aliás, é imperioso e urgente que lhe digamos, sem sombra para dúvidas, que ele, esse sujeito abjecto e mentiroso, é, vai ser e será sempre uma "persona non grata" em Portugal, país que ele ajudou a enterrar, país que ele roubou, de que se apropriou e onde, pasme-se, agora pretende regressar. Digo pretende, mas não creio que algum dia isso volte a acontecer, pelo menos nos próximos meses ou anos. É que temos de ter a coragem, a ousadia de o enfrentar, não permitindo o seu regresso, ou então, sim, permitindo mas para comparecer no tribunal e ser julgado, com verdade e sem protecionismos de todos os Pintos Monteiros deste país que o levaram ao colo e o protegeram vergonhosamente. Seria bom que todos os portugueses, que têm ainda alguma dignidade e honestidade, se mobilizassem e unissem no sentido de não admitirem sequer a sua presença em solo pátrio e ainda muito menos a sua participação num programa de televisão pública paga com o suor dos portugueses com que ele brincou durante os anos em que foi primeiro-ministro e secretário de estado. Levantemo-nos em protesto e façamos ver a esse grande impostor que o seu lugar não é aqui, que o seu lugar não pode ser aqui, apesar dos gritinhos histéricos de boas vindas dos seus apaniguados, entre os quais muitos políticos, jornalistas e graxistas em geral.
   Também não é de estranhar que, precisamente na mesma semana em que se sabe que Sócrates poderá regressar (o primeiro argumento da RTP seria para levantar as audiências, já se si tão baixas na televisão pública), outro ilustre político, não menos mafioso e intragável, o tal que disse que "também tinha o direito de vir a ser rico",  incontornável eminência parda do partido socialista - o s de socialista é minúsculo precisamente porque minúscula é essa figura - Jorge Coelho, a pregar num comício de apresentação de um candidato a uma câmara, lá para o interior. E o que disse o incontornável Jorge? Exactamente isso em que estão a pensar: nada! Aquele estilo bronco e vazio que sempre o caracterizou permanece inalterável na sua imagem de marca. O mais curioso de tudo é que disse que estava a gostar de estar ali, o que não é de espantar numa assembleia de inábeis mentecaptos onde até o inevitável Carrilho profetizou: "bela rentrée, Jorge! Bela rentrée!"
Joaquim Moita