segunda-feira, 26 de maio de 2014

A esquerda espremida.
As eleições de ontem para o Parlamento Europeu registaram, mais uma vez, a excepcional sabedoria do povo português.
Muitos analistas e comentadores políticos, a par de outras personalidades emblemáticas da esquerda, como o doutor Mário Soares, já vaticinavam a derrocada dos partidos do governo e antecipavam a euforia da vitória, originando eleições legislativas antecipadas e consequentemente o triunfo imperial do partido socialista, com uma margem substancial, inequívoca e decisiva em relação aos partidos que sustentam o governo.
Nada mais ilusório. O foguetório inicial do partido socialista, exemplificado na intervenção do grande tribuno e sofista, Francisco de Assis, transformou-se a pouco e pouco, à medida que os números desciam à realidade, num acontecimento mais parecido com a câmara ardente do velório do seu secretário geral.
O partido socialista, não só não ganhou com uma margem clara em relação aos seus adversários mais diretos, no que diz respeito à governação do país, como a partir de agora tem um problema acrescido que é o da continuidade do seu leader à frente dos destinos do partido. Por outras palavras, o partido socialista, com as eleições de ontem, ficou de tal maneira espremido que é difícil encontrar alguma gota passível de renovação em tão debilitada fruta. O ciclo seguro do partido socialista afigura-se agora inseguro, como aliás o foi desde sempre. 
No meio de tudo isto, surge a figura impagável de Marinho e Pinto, o intratável ex-bastonário da Ordem dos Advogados, habituado aos berros e às ameaças, do género: ganha, quem vocifera mais e melhor.
Populista quanto baste, vai ser a figura de proa nos próximos meses, até que alguém lhe atire à cara aquilo que José António Saraiva, ex-diretor do Expresso, lhe disse sem hesitar: "O Marinho e Pinto, bastonário (naquela altura) da Ordem dos Advogados é o cão-de-fila do Sócrates". De facto, é curiosamente estranho que tão distinto advogado se tenha mantido calado e silencioso, durante o período gonçalvista do consulado Sócrates. Dá para pensar como é que um espalha-brasas como Marinho e Pinto não tenha mexido uma palha para denunciar as arbitrariedades cometidas por Sócrates e toda a sua clique de figuras sinistras que forjaram e assinaram inúmeras parcerias público-privadas e todo um conjunto de contratos blindados que nos vão pôr a pão e água, durante muitos anos. Aliás o silêncio de Marinho e Pinto é tão eloquente como o dos tão famosos Pinto Monteiro e do antigo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, de que agora não lembro o nome. É sintomático que ambos tenham estado presentes na cerimónia de lançamento do livro de Sócrates sobre a "Tortura em regimes democráticos". Ele lá sabia do que estava a falar e de como a aplicava até à exaustão, recorrendo aos iluminados jogos do maquiavelismo contemporâneo.
T. Vedras, 26 de maio de 2014.
Manuel Feliciano