quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Um Natal simples

Como de costume, celebrei este Natal em família. Foram momentos bem passados, sem correrias nem prendas excessivas, como manda a prudência e a santa crise que a todos obriga. Perto das onze da noite fui ao convento de Santo António de Varatojo onde estão os frades franciscanos para a Missa do Galo. Presidiu frei Vitor Melícias, atual provincial dos frades observantes (há também os frades ou irmãos capuchinhos e ainda os frades ou irmãos conventuais que se separaram por razões históricas). Na homilia, sonora e ritmada, fazendo lembrar os sermões de antigamente onde ninguém consegue dormir porque a genica e a cadência do orador é espetacularmente agitada e frenética, frei Vitor destacou a singularidade do acontecimento que, na noite brilhante e esplendorosa, espelha a grandeza do Amor de Deus por cada um de nós, aos enviar-nos o Seu Filho para que nos tornemos, isso mesmo, filhos de Deus. E como esta irmandade, de todos, naquele Menino que acaba de nascer, nos faz ser mais solidários e fraternos para com todos os homens, nossos irmãos.
No final da celebração, o guardião do convento convidou toda a gente para tomar uma canjinha, um bolo de rei, uma rabanada ou uma filhós, acompanhada de um tintinho ou vinho do Porto, no refeitório quadrangular mas acolhedor e bem ornamentado, com a simplicidade costumeira dos lugares franciscanos.
Apetecia-me falar-lhes do que não foi dito e que deveria sê-lo: que o texto do evangelho continua intragável com a expressão "não havia lugar para eles na hospedaria" (Lc.2,7). Sobre isto, frei Vitor nada disse e não sei se alguma vez o dirá, preferindo manter-se acomodado no quentinho do trivial. É por isso que acho que vale a pena contestar, contestar saudavelmente, sem maldade e sem ressentimentos, até porque estamos na quadra mais bela do ano, na noite mais calma dos tempos em que toda a natureza e todos os seres vivos se irmanam em adoração ao Deus-Menino que acaba de nascer.
Mas, mesmo assim há que dizer alguma coisa, ainda que dissonante, em relação à tradição.
Quando se diz que "não havia lugar para eles, na hospedaria" (em grego katályma), estamos a traduzir incorretamente esta palavra que também tem o significado de quarto, compartimento, ou seja uma parte especial da casa, à parte ou reservado.
Além disso e subjacente a esta questão está o facto de se descaracterizar o papel relevante de José em todo este processo. José não era um tipo imprevidente e irresponsável.
Aquela história que nos foi contada, e mal contada, do quadro em que Maria e José, depois de mandados embora de vários lados, acabam por se abrigar num estábulo onde o Menino Jesus vem a nascer, não encaixa bem na verdadeira história de José.
Há uns bons anos atrás, estando eu em Lamego, foi-me pedido que ensaiasse um auto de Natal e que o representasse com os jovens franciscanos para a Ordem Terceira Secular. Como nada do que existia me interessasse por aí além, resolvi inventar esta história que vos passo a vós:

"A história do Menino Jesus
Que hoje vamos contar,
É a história mais bonita
Que alguém pode imaginar.

Ela aparece ligada
A Maria e a José
E só pode ser entendida
Como uma história de Fé.

Prestai, então, atenção
Que vamos já começar.
Prestai todos atenção
A esta história de encantar.

José amava Maria
Maria amava José.
José era de Belém,
Maria de Nazaré.

E antes de se casarem,
Maria foi visitada
Pelo anjo Gabriel:

Eu te saúdo, ó Maria!
O Senhor está contigo!
Foste a escolhida de Deus
Para ser o seu abrigo.

Ao ouvir estas palavras,
Maria ficou perturbada.
E perguntava a si mesma
o que aquilo significava.

O anjo continuou:

Não tenhas medo, Maria!
Por Deus foste abençoada.
Ficarás grávida, terás um Filho,
ó Mãe de Jesus, amada!

Então, Maria perguntou:

Eu sou uma rapariga virgem,
Como é que isso pode ser?
O que vão dizer os outros?
O que me vai acontecer?

E o anjo respondeu:

O Espírito Santo sobre ti descerá,
E o Santo de ti nascerá.
Anunciará o Reino dos Céus.
Nada há impossível para Deus!

Então, Maria disse:

O Senhor servirei.
Como Ele quiser, se fará.
Seja como tu dizes,
Tudo se resolverá.

E o anjo retirou-se.

Maria logo acreditou,
No que o anjo lhe dissera,
E foi contar a José,
Tudo o que lhe acontecera.

Andava José pensando,
No que Maria contara,
Quando o mesmo anjo de Deus,
Tudo ali lhe confirmara.

José amava Maria
E tinha muita fé em Deus.
E tudo aquilo aceitou
Como uma dádiva dos Céus.

Passados alguns meses,
José que amava Maria,
Fez com ela uma viagem
Que na história ficaria.

Saindo uma ordem de Roma
Do grande imperador Augusto,
Todos deviam ir dar o nome
Desde o mais pobre ao mais justo.

E foi assim que José
Que tanto amava Maria
Fez essa viagem com ela
Sem pressas e sem agonia.

Não andaram a bater à porta
De qualquer hospedaria.
Essa história não encaixa
Na de José que amava Maria.

Foram os dois para sua casa,
A casa de Belém de José.
E aí aconteceu outra coisa
Que só é possível "ver" com Fé:

As casas daquele tempo,
Não eram como as de agora,
Com quartos e corredores,
Casas de banho e por aí a fora!

Naquele tempo, as casas tinham
Uma grande sala, onde havia:
A um canto o fogão, a outro um armário.
Noutro, esteiras onde se dormia.

E era nessa casa que estavam:
Maria, prestes a dar à luz,
E José, seu marido fiel.
Entretanto, também ali chegaram,
Os parentes de José,
Vindos de todo o Israel.

Então, para não os mandar embora,
Maria e José decidiram
Que os parentes ficavam na sala
E eles se retirariam.

O estábulo dos animais
Foi o local escolhido.
Preparado com muito Amor,
Longe da confusão,
Do barulho, da multidão,
Poderia nascer, assim,
O Menino Salvador
Que nasceu para ti,
Para mim e para todos nós.

José amava Maria,
Maria amava José.

Leonardo Santos.

domingo, 25 de dezembro de 2011

O bosão de Higgs

No CERN (a organização europeia de investigação nuclear) trabalha-se afincadamente para se tentar encontrar o bosão de Higgs, aquilo a que metaforicamente alguns chamaram "partícula de Deus" - ou de outra coisa qualquer, em vez dela.
Vou reproduzir aqui, quase na íntegra, o excelente artigo de Filomena Naves, jornalista especializada do DN para os assuntos de Ciência, referente ao dia 14 de dezembro, último.
"O bosão de Higgs - uma partícula subatómica que pode revelar a origem da massa do universo - é o alvo dos físicos que trabalham com o Grande Colisionador de Hadrões (GCH ou LHC, Large Hadron Collider, em inglês). Este, é o mais poderoso colisor de átomos do mundo que recria as condições, no espaço, nos momentos após o Big bang, há cerca de 14 mil milhões de anos.
O Modelo Padrão é a teoria que diz que tudo no universo é feito de 12 blocos básicos, chamados partículas fundamentais, e seis forças fundamentais. Uma partícula - o bosão de Higgs - não foi ainda descoberta.
Na base destas experiências temos os Protões que são produzidos, retirados de átomos de hidrogénio. Estes Protões depois esmagam-se em 4 "pontos de colisão".
O Grande Colisionador de Hadrões tem, então, 4 detectores, denominados: Alice, Atlas, CMS e LHCb.
O Alice estuda o plasma quark-gluão, forma de matéria que se julga ter existido 10-25 segundos após o Big Bang.
O Atlas busca o busão de Higgs. Os protões esmagam-se a velocidade próxima da luz. A partícula de Higgs é demasiado instável para ser vista directamente mas deverá deixar uma assinatura eloquente, ou pico, nos dados ao desintegrar-se.
O CMS - Solenóide compacto de Muão - é concorrente do Atlas. O CMS analisou 400 mil milhões de colisões protão-protão desde 2010. Se ambos os detectores encontram o mesmo pico, podem ter encontrado a Higgs.
O LHCb investiga as partículas chamadas mesões B para descobrir diferenças entre matéria e antimatéria.
O físicos do CERN pensam ter conseguido o primeiro vislumbre do bosão de Higgs, a partícula que falta descobrir para que o Modelo Padrão (a teoria física hoje mais consensual para explicar o mundo material) fique completo. Mas a descoberta a sério deste bosão, com cem por cento de certeza só deverá chegar no final de 2012, quando a quantidade de dados disponíveis já for suficiente para eliminar as incertezas que persistem.
A incerteza não impediu,  no entanto, que uma onda de entusisasmo percoresse o auditório do CERN, onde centenas de físicos seguiram ao vivo o anúncio dos últimos resultados das colisões de partículas  das experiências Atlas e CMS que estão à procura do Higgs.
Os dados apresentados por Fabiola Gianotti e Guido Tonelli, investigadores porta-vozes das respectivas experiências, constituem a maior aproximação de sempre ao objecto de busca.
De forma independente, tanto o Atlas como a  CMS detectaram, pela primeira vez, "um excesso de eventos" nas colisões de partículas realizadas a níveis de energia da ordem dos 126 gigaelectrãovolt (GeV) - a ATLAS - e 124 GeV (a CMS), que pode ser o sinal da presença do bosão de Higgs, naquelas "alturas".
No entanto, a insuficiência de dados para eliminar as flutuações estatísticas impedem uma conclusão definitiva. Porquê o entusiasmo então?
Como explicaram os investigadores, "a janela" onde poderá ser encontrado o Higgs ficou muito reduzida. E, se ele estiver lá - ou o que quer que esteja no seu lugar - poderá ser encontrado quando se quadruplicarem as colisões e os respectivos dados, o que deverá suceder no próximo ano.
Além disso, estando a partícula de Higgs na região dos 125 GeV (gigaelectãovolt), ela é uma espécie de "peso ultraleve", o que significa que precisa pelo menos de outra parceira para se manter estável.
Como explicou Guido Tonelli, da CMS, "isto pode ser o primeiro sinal, de série de novas descobertas". Mas, para já, é preciso aguardar."
Gonçalo Félix

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A mentira de Soares

Alfredo Barroso, sobrinho e secretário, conselheiro e chefe da casa civil do presidente Soares, veio há dias, através do DN - via fuga de e-mail daquele para alguns dos seus amigos mais chegados - desmascarar a imagem do grande e iluminado líder que foi secretário-geral do partido socialista, primeiro-ministro, ministro dos negócios estrangeiros e presidente da república. 
Numa linguagem pouco abonatória para o grande líder, repleta de ironia cáustica, retira-o do pedestal do santuário socialista, colocando-o no lugar que merece. Já se sabia que Mário Soares era um político convencido mas que fosse homem de má fé estávamos londe de imaginá-lo.
O nó da questão parece ter sido o facto de Mário Soares ter mentido, quando reivindicava para si a autoria da expressão "magistratura de influência" e a sua introdução em Portugal, em entrevista ao Diário de Notícias de 7 de Dezembro, último.
Alfredo Barroso, cujo passado político se confunde com a história do movimento socialista, ainda no Estado Novo - envolveu-se nas lutas estudantis de 1962 a 1968, fez parte da Acção Socialista Portuguesa em 1969, foi membro fundador do PS em 1973 - ficou magoado com o facto de Mário Soares, no último livro que publicou: "Um Político assume-se", se ter esquecido completamente dele - dele que fora precisamente seu colaborador mais próximo, tanto no plano político como no plano pessoal, chegando inclusivé a ser seu chefe da Casa Civil da presidência da República, durante dois mandatos - e o ter "mencionado apenas uma vez (pag.356) no meio de uma lista de apoiantes do MASP, Movimento de Apoio à candidatura de Mário Soares a Presidente.
Reparem na singularidade da ironia: (escreve Barroso)..."Não sendo trotskista por convicção ideológica, tornei-me troskista por elisão fotográfica...", referindo-se ao facto de o regime soviético ter apagado Trotsky das fotos oficiais, do mesmo modo que Soares o apagou da fotografia no seu livro atrás citado.
Barroso vai mais longe ao afirmar que Soares, no livro, teve "vários lapsos de memória" que " não posso deixar de rectificar, agora que o grande democrata (este grande parece-me magistralmente irónico) me omitiu da sua história política pessoal, no último livro que publicou".
Para se perceber o alcance destas palavras magoadas, convém também citar o que Alfredo Barroso disse, a propósito da questão que parece ter estado na origem de tudo. Conta ele: "A expressão (magistratura de influência) já existia, utilizada por vários constitucionalistas franceses, mas quem a utilizou pela primeira vez em Portugal foi o Chefe da Casa Civil do Presidente Soares, Alfredo Barroso, numa conversa com o jornalista Horácio do Vale César, reproduzida sob a forma de artigo na edição do Semanário, de 27 de Agosto de 1987".
Quando soube disto, Mário Soares, depois de ler o artigo, "telefonou-lhe do Algarve, onde estava de férias, para o repreender: "Antes de fazeres este tipo de afirmações a um jornal, deves falar comigo. O que disseste está bem, e essa ideia da "magistratura de influência" é um bom tema a explorar. Mas, para a próxima, deves falar primeiro comigo".

Manuel Feliciano

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Non apropinquare

"A vida e regra dos irmãos menores é esta: observar o evangelho de nosso senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem nada próprio e em castidade"(Segunda Regra, 1º, 1).
Desculpem, caros amigos, esta minha "maldade" de hoje. É que fui candidato a franciscano, durante uns bons anos e acho que, verdadeiramente, nunca deixei de o ser. Aliás, quando me questionam qual a escola em que estudei, costumo atirar-lhes: a escola franciscana. Foi esta escola que me formou em valores fundamentais como a fraternidade, a liberdade, o sentido dos outros e abertura para o inédito. Tudo devo a S. Francisco e à visão franciscana da vida, amplamente desenvolvida e sistematizada por Leonardo Coimbra, filósofo e discípulo de Henri Bergson.
A tirada com que iniciei esta reflexão e o título "non apropinquare" (não apropriar-se de...) são daquelas coisas que nunca esquecemos, mesmo que venhamos a ficar amnésicos com o passar do tempo, devorados pela máquina infernal do consumismo nihilizante.
Afora, a questão da castidade - terreno onde nunca me senti convenientemente confortável - e da obediência - onde pressentia uma desconfortável inconveniência, em contraponto com o sentido da liberdade - , o viver sem nada próprio, isto é, ser pobre à maneira do evangelho anunciado por Jesus de Nazaré, aparecia como a saída para algumas das mais inquietantes questões que o ser humano coloca a si próprio, isto é: quem sou, o que faço aqui, o que me é possível esperar?
Leonardo Coimbra conta-nos o exemplo do astrónomo que contempla uma galáxia através do seu telescópio. No intuito de impedir a descoberta de novas possibilidades, a sociedade tenta "suborná-lo" com dinheiro, colocando moedas em cima umas das outras a fim de tapar a lente do instrumento, com que, fascinado, ele observa o "seu mundo, a sua vida".
Que faz, então, o nosso investigador? - questiona Leonardo Coimbra. Nunca tirando os olhos do que está a ver e a saborear, com inaudita excitação, afasta com uma das mãos os obstáculos que o impedem de ver mais longe, de ir mais além, de sentir o prazer da descoberta e o gozo incomensurável da busca do desconhecido: a fraternidade cósmica. 
Somos irmãos de tudo o que existe: do sol, do mar, da água, das estrelas, dos animais. Em nós e neles há uma chama que brilha, uma brisa que afaga, um sopro que anima, chamemos-lhe espírito ou gheist, ou pneuma ou alma, ou lá o que for.
E é isto que nos torna, simultaneamente, os seres mais pequenos da criação e ao mesmo tempo os maiores do universo.
Leonardo Santos

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A "máfia" alemã"

Desenganem-se os que pensam que me vou atirar à senhora Merkl ou ao eixo franco-alemão. Não, não vou por aí.
Hoje, contrariando tudo o tenho dito, vou propôr-vos que acompanhem o meu raciocínio num tema que nunca abordei aqui, mas que já tenho estudado, de alguns anos a esta parte: isso mesmo, futebol.
Realizado o sorteio para o Euro 2012, coube-nos em sorte as mais temíveis equipas europeias: Alemanha, Holanda e Dinamarca, todas já campeãs europeias e com um estatuto assinalável.
Muitos já vaticinaram a nossa eliminação - uma grande parte dos mesmos que também já tinham previsto o nosso enterro no jogo contra a Bósnia Herzegovina. Todavia, Portugal seguiu em frente, para gáudio de muitos e tristeza dos mesmos.
Não sei se por discordarem das opções de Paulo Bento - afinal os intocáveis Bozingwa e Ricardo Carvalho não são assim tão imprescindíveis a começar pelos seus clubes, onde nem titulares são (veja-se que RC não tem lugar no Real Madrid de Mourinho que por sua vez não está disposto a aturar as birras psicóticas e infantilizadas do 4º defesa; quanto a Bosingwa acontece-lhe o mesmo no Chelsea, onde não consegue superar Ivanovic que é um defesa direito muito mais completo que ele; melhor a defender e a atacar as bolas altas nos cantos e livres onde se revela um dos mais fortes do Chelsea, a par de Drogba e Terry)- se por algum complexo de inferioridade em enfrentar os grandes desafios da vida e da história, o que é certo é que a grande maioria, dos que gostam do futebol indígena, ainda não se apercebeu de uma coisa importante que persiste em ser esclarecida de vez: a questão do monopólio que, nos últimos anos,  a Alemanha tem em relação à bola utilizada nos Mundiais e Europeus. A Alemanha, através da Adidas, tem conseguido subornar os dirigentes da FIFA e da UEFA de modo a obter o monopólio no fabrico das bolas que vêm sendo utilizadas dos mundiais e europeus, desde o Mundial realizado na Coreia-Japão até aos dias de hoje.
E o que fez então a Alemanha?
Através da Adidas - já se vê -  tem testado, experimentado, fabricado e produzido bolas de futebol que vão ao encontro do seu tipo de futebol, assente em jogadores com pouca capacidade técnica, mas mais velozes e lutadores, aquilo a que eu costumo designar por jogadores-corredores. E é aqui que está a diferença.
É claro que esta diferença não explica tudo. Mas é uma diferença-detalhe que é absolutamente importante num jogo de futebol.
Hoje, e cada vez mais,  um jogo pode decidir-se nos mais ínfimos detalhes: um canto treinado  laboratorialmente, um livre à entrada da área ou em zonas laterais, aperfeiçoado até à exaustão, as transições defesa-ataque executadas maquinalmente, a simulação de penalties  e de agressões, treinadas e estudadas até à perfeição, a marcação maximizada de grandes penalidades etc.
Tudo hoje é estudado, treinado, repetido, enfim, maximizado, mas de tudo isto, nada é tão relevante como a bola a utilizar num jogo de futebol.
O argumento de que a bola é igual para todos é um argumento velho e caduco que não tem fundamento no atual futebol moderno. É por isso que, valendo-se da sua grande inovação tecnológica, a Alemanha dá cartas no sentido de obter os resultados que, de outro modo, não conseguiria, "criando" bolas à sua imagem e semelhança, isto é de acordo e em consonância com as características morfo-atléticas dos seus jogadores.
Exceptuando, talvez, Ozil digam-me quais são os jogadores alemães que possuem um poder técnico elevado e superior aos jogadores das outra equipas que vão atuar no próximo europeu? O mesmo se diga dos outros campeonatos mundiais e europeus anteriores.
Voltaremos ao assunto.
Joaquim Moita

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Quando a cabeça não tem juízo...

O povo, na sua sabedoria milenar, costuma dizer que "quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga". Esta máxima também pode ter a seguinte leitura:"quando os políticos e responsáveis de um país, qualquer que ele seja, não têm juízo, isto é, não são responsáveis, ou, por outras palavras, não são honestos, ou seja, não têm ética ou moral ou seja lá o que for equivalente, o povo, leia-se, a base da pirâmide - em contraposição com o topo desta - é que paga, isto é, o povo é que se lixa, é que está tramado, é que está fornicado.
Vem isto a propósito dos últimos dados fornecidos à comunicação social sobre as dívidas do Estado, nomeadamente as respeitantes à Saúde, às dívidas dos hospitais, às dívidas das empresas públicas e às dívidas da administração local. Por partes.
O grosso da talhada diz respeito às dívidas das empresas públicas: à Banca, estas devem 31.925,5 milhões de euros,  e a fornecedores devem 679,5 milhões da mesma moeda.
As dívidas do Ministério da Saúde totalizam 3 mil trezentos e tal milhões de euros, sendo que 2.890,4 milhões são devidas a fornecedores e 473,7 milhões à Banca.
A dívida dos Hospitais à indústria farmacêutica totaliza 1.231,9 milhões de euros.
Por sua vez, a dívida da administração local é de 5.299 milhões de euros a fornecedores e 4.037 milhões à Banca.
Como foi possível chegar a uma situação destas?
Como foi possível que governantes e gestores da Saúde e dos Hospitais pudessem cometer tais barbaridades, sem nunca serem "chamados à pedra?"
A resposta parece estar num comentário que li, a propósito, do último livro do grande iluminado da democracia portuguesa, chamado Mário Soares. Apesar de não acertar uma nos últimos tempos - desde que foi corrido do Parlamento Europeu, onde pensava que tinha lugar garantido como presidente daquela câmara - , persiste em reafirmar a sua posição de político a tempo inteiro (sinceramente não sei o que isso é), apresentando-se ou fazendo outros apresentarem-no como o grande pai da democracia vigente. É caso para dizer que "malfadado pai, que tais filhos gera".
E o mesmo se diga do antigo primeiro ministro e atual presidente da República. Como é possível que um homem com tamanhas responsabilidades se tivesse deixado enganar por pessoas da sua confiança, como Dias Loureiro, Duarte Lima, Oliveira e Costa, para não falar de outros tão próximos mas igualmente execráveis!?
A história fará o seu julgamento mas isso não nos impede de, desde já, dizermos o que pensamos.
O mesmo se diga de Sócrates e de toda a tralha socialista que tem sugado este país e o tem arrastado para a valeta e para a lixeira da miséria e da humilhação. As "cigarras" do costume, mestras na verborreia falaciosa, abriram bem funda a campa, onde nos enterramos todos os dias.
Até quando suportaremos esta cambada?
Manuel Feliciano

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um Novo Paradigma?

Anselmo Borges, professor de Filosofia da Universidade de Coimbra, padre, no seu brilhante artigo de 26 de novembro, último, no Diário de Notícias, aborda de forma clara e ao mesmo tempo pedagógica a problemática da crise. Partindo da origem da palavra crise (do verbo grego krinein, separar, peneirar - lembram-se da peneira usada para separar a farinha do farelo? - chegar a bom porto), faz-nos viajar por uma pluralidade de sentidos, qual deles o mais interessante. Mas o mais curioso deste artigo é a reflexão que lança sobre o novo paradigma a implementar. O macro-paradigma pós moderno, como ele chama, implica que o trabalho seja visto como um bem escasso, certamente, porém, "um bem a distribuir equitativamente". Isto fez-me pensar naquilo que venho dizendo há anos: temos de defender o valor do trabalho e impedir que haja acumulação de funções, de tarefas que depois também se materializam em acumulação de privilégios, mordomias, benesses, etc. Trata-se de uma perspectiva que não se apropria dos recursos que são de todos, antes os distribui, de uma forma equitativa e solidária. Precisamos de dar mais valor aos outros e às coisas. No fundo, valemos pelo ter ou pelo ser? Há, por isso, que combater e desmistificar aquilo a que ele chama: "a volúpia do consumismo, substituindo-o pela intensidade da vida".
Leonardo Santos

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O espectro de Sócrates

Quando a 30 de junho último, neste mesmo blogue, eu disse que José Sócrates, o homem mais pernicioso para Portugal nos últimos 50 anos, se ia eclipsar, após estrondosa derrota, numa qualquer loja maçónica de Paris, não estava a pretender fazer futurologia. Estava simplesmente a intuir e  a partilhar aquele "feeling" que temos, quando somos confrontados com a situação catastrófica do país, deste país, refém de uma elite pseudo-democrática, esbanjadora de recursos e de bens comuns, gastadora do que temos e do que não temos, sugadora e parasita do estado e do povo português.
Embora longe do país, o espectro de Sócrates continua a pairar e a mover, subrepticiamente, a sua influência, quanto mais não seja para minar a credibilidade do atual secretário geral do Partido Socialista, que, diga-se de passagem, exceptuando aquela primeira fase em que tentou dar graxa à comunicação social e aos jornalistas, aquando do Congresso (já não me lembro onde...), se tem revelado duma confrangedora pobreza de ideias e duma completa ausência de espírito crítico e de criatividade inovadora. Isto prova-se, na dificuldade que tem em debater qualquer assunto sério e urgente, ao mesmo tempo que manifesta uma cada vez mais nítida incapacidade de se expressar, de articular um discurso coerente e sólido, refugiando-se, demagogicamente,  nos lugares comuns da "solidariedade" e do "primeiro estão as pessoas".
Como se isto não bastasse, os homens de Sócrates movimentam-se, nas estruturas do Parlamento, em comissões e subcomissões parlamentares dos vários departamentos, como peixes na água, tomando as rédeas do poder socialista em tudo quanto é sítio, e é vê-los ali, em todo o seu esplendor, novamente, os Lellos, os Vitalinos, os Zorrinhos (não percebo como é que Seguro o aceitou como líder da bancada, ou antes, percebo perfeitamente como é que foi imposto a Seguro por Sócrates e seus seguidores), os Basílios - figura sinistra da velha direita recalcitrante, mas agora promovido a guru da esquerda neoliberal - os Silvas Pereiras - figura melíflua e camuflada de arranjos supostamente credíveis e inovadores mas que se revelaram duma leviandade gastadora e venal (estão-se a lembrar das célebres parcerias público-privadas?) - e, pasme-se, agora, a nova "passionária" do Partido Socialista, substituindo a já lendária Ana Gomes, isso mesmo, a filha mais nova de Adriano Moreira, Isabel Moreira (educada em colégio da Opus Dei) escolhida a dedo por Sócrates, para cabeça de cartaz das grandes causas fracturantes, tão ao gosto do ex-secretário geral(o que ele não deve ter vociferado em Paris! - dizem que até se ouviu no Largo do Rato - com o afastamento de Diogo Infante do cargo de diretor artístico do D. Maria II...).
Manuel Feliciano