quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A mentira de Soares

Alfredo Barroso, sobrinho e secretário, conselheiro e chefe da casa civil do presidente Soares, veio há dias, através do DN - via fuga de e-mail daquele para alguns dos seus amigos mais chegados - desmascarar a imagem do grande e iluminado líder que foi secretário-geral do partido socialista, primeiro-ministro, ministro dos negócios estrangeiros e presidente da república. 
Numa linguagem pouco abonatória para o grande líder, repleta de ironia cáustica, retira-o do pedestal do santuário socialista, colocando-o no lugar que merece. Já se sabia que Mário Soares era um político convencido mas que fosse homem de má fé estávamos londe de imaginá-lo.
O nó da questão parece ter sido o facto de Mário Soares ter mentido, quando reivindicava para si a autoria da expressão "magistratura de influência" e a sua introdução em Portugal, em entrevista ao Diário de Notícias de 7 de Dezembro, último.
Alfredo Barroso, cujo passado político se confunde com a história do movimento socialista, ainda no Estado Novo - envolveu-se nas lutas estudantis de 1962 a 1968, fez parte da Acção Socialista Portuguesa em 1969, foi membro fundador do PS em 1973 - ficou magoado com o facto de Mário Soares, no último livro que publicou: "Um Político assume-se", se ter esquecido completamente dele - dele que fora precisamente seu colaborador mais próximo, tanto no plano político como no plano pessoal, chegando inclusivé a ser seu chefe da Casa Civil da presidência da República, durante dois mandatos - e o ter "mencionado apenas uma vez (pag.356) no meio de uma lista de apoiantes do MASP, Movimento de Apoio à candidatura de Mário Soares a Presidente.
Reparem na singularidade da ironia: (escreve Barroso)..."Não sendo trotskista por convicção ideológica, tornei-me troskista por elisão fotográfica...", referindo-se ao facto de o regime soviético ter apagado Trotsky das fotos oficiais, do mesmo modo que Soares o apagou da fotografia no seu livro atrás citado.
Barroso vai mais longe ao afirmar que Soares, no livro, teve "vários lapsos de memória" que " não posso deixar de rectificar, agora que o grande democrata (este grande parece-me magistralmente irónico) me omitiu da sua história política pessoal, no último livro que publicou".
Para se perceber o alcance destas palavras magoadas, convém também citar o que Alfredo Barroso disse, a propósito da questão que parece ter estado na origem de tudo. Conta ele: "A expressão (magistratura de influência) já existia, utilizada por vários constitucionalistas franceses, mas quem a utilizou pela primeira vez em Portugal foi o Chefe da Casa Civil do Presidente Soares, Alfredo Barroso, numa conversa com o jornalista Horácio do Vale César, reproduzida sob a forma de artigo na edição do Semanário, de 27 de Agosto de 1987".
Quando soube disto, Mário Soares, depois de ler o artigo, "telefonou-lhe do Algarve, onde estava de férias, para o repreender: "Antes de fazeres este tipo de afirmações a um jornal, deves falar comigo. O que disseste está bem, e essa ideia da "magistratura de influência" é um bom tema a explorar. Mas, para a próxima, deves falar primeiro comigo".

Manuel Feliciano

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