Anselmo Borges, professor de Filosofia da Universidade de Coimbra, padre, no seu brilhante artigo de 26 de novembro, último, no Diário de Notícias, aborda de forma clara e ao mesmo tempo pedagógica a problemática da crise. Partindo da origem da palavra crise (do verbo grego krinein, separar, peneirar - lembram-se da peneira usada para separar a farinha do farelo? - chegar a bom porto), faz-nos viajar por uma pluralidade de sentidos, qual deles o mais interessante. Mas o mais curioso deste artigo é a reflexão que lança sobre o novo paradigma a implementar. O macro-paradigma pós moderno, como ele chama, implica que o trabalho seja visto como um bem escasso, certamente, porém, "um bem a distribuir equitativamente". Isto fez-me pensar naquilo que venho dizendo há anos: temos de defender o valor do trabalho e impedir que haja acumulação de funções, de tarefas que depois também se materializam em acumulação de privilégios, mordomias, benesses, etc. Trata-se de uma perspectiva que não se apropria dos recursos que são de todos, antes os distribui, de uma forma equitativa e solidária. Precisamos de dar mais valor aos outros e às coisas. No fundo, valemos pelo ter ou pelo ser? Há, por isso, que combater e desmistificar aquilo a que ele chama: "a volúpia do consumismo, substituindo-o pela intensidade da vida".
Leonardo Santos
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