sábado, 12 de julho de 2014

O regime do sistema

O REGIME DO SISTEMA
Este apontamento poderia também intitular-se: "O sistema do regime". Vejamos se nos entendemos. Quando falo em regime do sistema, isto significa que vivemos num regime, que por sinal é um regime democrático, que resulta de eleições livres, mas que assenta naquilo a que chamo de "sistema". E o que é o sistema? O sistema é todo um conjunto de estruturas e de pessoas que se apoderaram do Estado e que o mantêm refém dos interesses dos vários blocos que constituem os partidos que detêm o poder desde o 25 de abril de 1974, viciando assim o próprio regime democrático. 
Podemos dizer que, grosso modo, os partidos que fazem parte do bloco central (PS e PSD) são os principais recrutadores destas pessoas e estruturas que se apoderaram do País, mas também o CDS, que exerce e exerceu funções governativas, não pode ficar de fora desta problemática, nem mesmo o PCP que, igualmente exerceu funções governativas no período imediato ao 25 de Abril de que resultaram também consequências graves para o futuro do País. Em suma, os grandes partidos políticos que governaram ou de alguma forma assumiram funções de chefia nos vários sucessivos governos, são os grandes responsáveis pelo estado de degradação económica, social e ética a que o País chegou, daí resultando consequências gravíssimas para o futuro de Portugal. A vinda da troika exemplifica e explica a situação desastrosa a que Portugal chegou e que parece não ter solução possível, dentro do quadro institucional.
Mas regressemos ao "Sistema". Então o que fizeram"eles" (E nós já definimos quem são eles!)?
Em primeiro lugar tomaram posse como deputados da Nação. Na Assembleia da Republica criaram uma Constituição que, em termos gerais é uma boa Constituição onde os direitos, liberdades e garantias são o ponto forte do regime democrático. No entanto, a par disto foi sendo criada Legislação, na Assembleia da República, que ia subvertendo, a pouco e pouco, o espírito da própria Constituição, legislação essa que revertia a favor dos próprios (deputados, ministros, presidentes da república, juízes e magistrados, cargos de chefia do sector do Estado, etc, que se traduziam em isenções, privilégios, subvenções, mordomias, suplementos, etecetera, de que o comum dos cidadãos está privado, mas que "eles" detêm, ad eternum, para sempre.
Em segundo lugar, os membros do Governo passaram a poder nomear para as empresas públicas e do sector do Estado os gestores, recrutados dos seus ambientes partidários, que, muitos deles, não tinham competência para os cargos, alguns deles teriam eventualmente, mas, ambos, os competentes e os incompetentes, pagos principescamente, chorudamente, escandalosamente, obscenamente, com todas as mordomias de gente rica que não sabe o que é o trabalho e o que custa trabalhar, chegando mesmo a terem prémios de produtividade quando as empresas apresentavam prejuízos astronómicos.
Conforme a sucessão dos governos, estes cargos, das Empresas Públicas iam rodando, ao mesmo tempo que se criavam novos empregos nas Fundações, Institutos Públicos, a fim de alimentarem o clientelismo dos partidos e dos seus amigos, sendo consensual, entre "eles", a rotatividade dos cargos e funções, já que o importante era sacar o máximo, tirar o maior proveito possível das grandes e novas oportunidade surgidas.
Com a cumplicidade de todos os Presidentes da República e dos próprios tribunais (Constitucional, Supremo Tribunal) foi possível acumular vários cargos e funções durante muitos anos, aumentando sempre os vencimentos dos próprios, criando-se um fosso enorme, desigual e injusto entre os da base da pirâmide (ordenado mínimo) e os do topo (vencimentos inacreditáveis, de nível astronómico).
Com a cumplicidade do poder instituído e da supervisão (Banco de Portugal), foi-se agravando a dívida pública, desmoronando a economia, contraindo-se sempre e sempre mais empréstimos ao poder financeiro, fazendo-se contratos (as célebres Parcerias Público-Privadas) ruinosos para o futuro do País.
Ninguém foi julgado, entretanto, por nenhum crime, como se vivêssemos no mundo de Pangloss, o melhor dos mundos possíveis.
Com este "fartar vilanagem", expressão de Eça, e que eu chamo de "sugar até ao tutano o povo português", chegámos aqui e agora, assim, revoltados, angustiados, "comidos" por esta gente que tem o desplante de, depois de tudo o que fizeram, ainda virem com palpites sobre o que é melhor para o País, qual dos dois candidatos do PS é o melhor para tomar conta de Portugal, no post Passos-Portas.
Isto vem a propósito de várias figuras notáveis da nossa praça proporem o dr António Costa para candidato a primeiro-ministro. De entre elas, já me referi ao dr Nuno Godinho de Matos, em apontamento anterior, e hoje referiria, a título de exemplo, o dr Campos e Cunha. Estas e outras luminárias da nossa praça, especialistas na acumulação de cargos em várias instituições diferentes, têm o condão de nos acicatar, de acirrar o nosso ânimo
apetecendo dizer-lhes, como o prégador da Galileia: "Raça de víboras! Sepulcros caiados! Até quando teremos de vos suportar?"
Manuel Feliciano


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