terça-feira, 17 de maio de 2011

A visão anti-sistema

No seu brilhante artigo de opinião, publicado no Diário de Notícias de 12 de Maio - a Controlinveste deve estar neste momento com azia, muita azia - Viriato Soromenho-Marques descreve, com perfeita lucidez e desasombradamente, aquilo a que nós chamamos "O Sistema". Com o título "Resgatar o Estado", o autor lança o seu olhar crítico, contundente, em relação àqueles que tornaram o Estado refém do Bloco Central. Trancrevê-lo-emos de seguida:
"Se o Estado é a instituição destinada à procura eficiente do bem público, acima do egoísmo dos particulares, sobretudo dos egoísmos mais poderosos, então o Estado, em Portugal, há muitos anos que deixou de existir na plenitude da sua vocação. Foi capturado por uma poderosa facção de interesses, que se apoderaram do PS e do PSD.
Vejamos o exemplo de Sócrates.
Qual era o seu currículo antes de chegar a Primeiro-Ministro?
- Uma gestão danosa do Euro 2004. Ele foi o rosto dos estádios abandonados que continuam a devorar inutilmente recursos públicos escassos.
- Ele deu a cara, também, pela condução ruinosa do Pólis - um projecto que só uma mente provinciana poderia conceber como resposta à complexa questão das cidades - mas que aumentou a dívida soberana.
Em Portugal,  a má gestão de dinheiros públicos tem sido uma "vantagem" na selecção do pessoal político, pois o nosso país não tem uma "classe dominante", ao contrário do que fantasiam os marxistas.
No nosso país manda uma facção predatória que assaltou o Estado, a partir do paulatino controlo do processo de degradação dos partidos do bloco central.
A facção que nos arruinou é formada por uma constelação de interesses que se alimentam através do aumento da nossa dívida pública e privada.
As grandes construtoras, as grandes empresas de distribuição, as centenas de gestores recrutados entre os quadros do PS e do PSD, o pessoal político menor das autarquias, regiões, e parlamentos que,  com honrosas excepções, é venal e pouco preparado, e os bancos que estão sempre do lado de onde sopra o lucro.
O problema é que os interesses desta facção são diametralmente opostos aos interesses de, pelo menos, 95% da população portuguesa.
O País precisa de desenvolver as suas capacidades endógenas, em particular na agricultura, nas pescas,  na energia, na indústria, nas redes de distribuição, nos transportes. Contudo, a facção dominante vive à custa do endividamento e tem medo da competição internacional.
A facção que capturou o Estado é uma máquina de processamento de dívida,  de degradação do ambiente e de desorganização do território.
As grandes obras públicas ou os bairros periféricos das grandes cidades, inúteis na maioria dos casos, são sorvedouros de fundos comunitários e de empréstimos externos.
As grandes cadeias de distribuição tudo fazem para destruir a nossa capacidade alimentar própria, fomentando a importação.
A política de transportes é a principal causa do aumento da nossa pesada factura em combustíveis fósseis.
Que ninguém se iluda. A 5 de Junho, vamos mudar o Conselho de Gerência, mas a facção vai querer continuar à frente do "Estado".
O pacote de resgate culminou anos de desvario e deveria incitar a um mudar de rumo. Contudo, enquanto o Estado não for resgatado pela sociedade - sendo colocado ao serviço dos milhares de interesses plurais, mas convergentes, de um tecido social saudável, a conta vai continuar a ser paga pelos 95% que ficaram de fora. Por quase todos nós".
Viriato Soromenho-Marques.

Mais palavras para quê? Que este artigo nos faça verdadeiramente mudar o que deve ser mudado. Manuel dos Santos Feliciano.

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