quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Cancro

Em recente entrevista ao Diário de Notícias, Mário Soares (03-05-2011) disse, a propósito da Troika: "A Troika não nos dá nada: empresta-nos e com juros muito elevados. E porventura acrescentado exigências que nos poderão ser muito prejudiciais, se só forem tomadas em conta a redução do déficit e dos endividamentos, privados e públicos sem que haja dinheiro para investir, evitando a recessão, diminuindo o desemprego, as desigualdades e a pobreza, que começam a ser perturbadoras para a sociedade portuguesa".
Não deixa de ser bastante curiosa esta opinião do Dr. Mário Soares, se se considerar que, tendo sido Primeiro-Ministro de Portugal e Presidente da República por dois mandatos, pouco tenha feito, nessa altura, para diminuir as tais desigualdades e a pobreza que, tanto então como agora, começam a ser causa de perturbação da sociedade portuguesa.
Não deixa de ser também curioso que, quando o FMI veio pela primeira vez a Portugal, era precisamente Primeiro-Ministro o Dr Mário Soares e o Dr Vitor Constâncio o Ministro das Finanças e do Plano.
Mas... o que está por detrás de toda esta preocupação que agora evidencia e que pode gerar perturbação na sociedade portuguesa? O medo de um conflito, grandes convulsões sociais, agitação das massas? Problemas de consciência, sentido de culpabilidade em relação ao passado por quase nada se ter feito?
Tenho para mim que a questão é outra e que se pode traduzir assim: o Dr Mário Soares, como aliás outras figuras importantes da vida política portuguesa - quase todos reformados, ex-governantes, ex-ministros, ex-deputados, ex-administradores de empresas públicas, ex- presidentes de câmaras, ex-consultores, mas ainda acumulando, agora, neste preciso momento, em Fundações, em Institutos, em orgãos, ainda que menores, de Seguradoras, Bancos, etc e tal, -  estão mais preocupados com a manutenção do status quo, isto é "O Sistema", do que propriamente com a questão da  pobreza e dos pobres que desprezam. Habituados à retórica e à demagogia, não deixam de pensar senão neles próprios, nos seus interesses e corporações, constituindo verdadeiramente o cancro deste país adiado. Parafraseando Eça: "Vá-se pela água abaixo o pensamento mas salve-se a bela frase".
Manuel Feliciano

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